Neste filme colorido do diretor, ele se encontra completamente dentro do gênero de filme policial da Nikkatsu dos anos 60, com uma certa subversão do noir americano. Ao invés do expressionismo tão comum, um verdadeiro surrealismo se alastra pelas cores e acontecimentos estranhos dessa narrativa. Suzuki com suas invenções visuais, sempre constrói uma espécie de jogo com o gênero que se insere, sempre deixando algo escoar pela estética.
A
introdução do longa, que inicia com o preto e branco numa investigação policial
própria do Noir, contém uma rachadura, uma flor colorida, que parece ter sido
inserida posteriormente à filmagem, pois destoa de forma estranha na tela.
Logo, um corte para as cores, as ruas japonesas dos anos sessenta, cheias de
jovens e Jazz. A montagem veloz assume o controle da narrativa, enquanto Jo
Shishido entra em cena, como um homem sem nome, ou melhor um Yojimbo. Vale
notar como a narrativa contém uma certa semelhança com a obra de Akira Kurosawa
e foi lançada antes do sucesso Por um Punhado de Dólares de Sergio Leone. Se
assemelhando a eles na medida que tem como plano colocar duas grandes máfias
que coexistem num território para se exterminarem, mas de maneira diferente,
ele possui um objetivo muito especifico. Longe de ser o herói estoico como
esses heróis citados, Joe é guiado por certo tipo de justiça de ordem, com uma
alma malandra.
Suzuki
começa nesse filme a realmente brincar com a estética surreal. Por exemplo, a
primeira cena em que Joe acaba adentrado na sala de reunião de uma das máfias.
A sala é a prova de som, assim é impossível de escutar o barulho vindo do bar,
no qual ocorrem apresentações; é possível ver o bar da sala de reunião por
conta de um vidro que permite a visão, mas impede a sala de ser vista. Assim, o
diretor conduz a cena priorizando a profundidade de campo, sendo possível
acompanhar praticamente três planos de acontecimentos bem definidos, os chefes
mais próximos da tela, Joe enfrentando um capanga como segundo plano e por fim,
ao mais fundo, a bela apresentação em rosa no bar. Esse último plano parece trazer
o rasgo onírico, com sua luminosidade e até mesmo aleatoriedade em relação aos
planos principais.
Não
só aí demonstra sua inventividade. Numa sequência especifica, um homem conduz
uma mulher viciada em droga como um pequeno rato de Skinner. Conseguindo com
simplicidade e onirismo construir alucinações. Aliás, todos os encontros do
protagonista são verdadeiras peças do cinema de ação, com suas coreografias
divertidas e a violência severa, apesar de não explícita. Existe uma cena em
especial que o diretor utiliza da mesma técnica de Atômica, filme de 2017, que
uma cena é projetada em um cinema e o que ocorre nela – tanto sua fotografia,
quanto sua sonoridade – mudam o tom da ação e afetam o ritmo sensorial do
espectador. É importante salientar essa técnica, pois o uso da cena do outro
filme dentro deste não é de pura citação ou referência, ela tem efeito
estético, como se bloco inserido se encadeasse em um novo esquema.
Porém,
apesar de toda essa violência e tensão provocada pela história, existe um teor
cômico inevitável. Já que sempre promove uma paródia do Noir, já que desde o
princípio corta a investigação até então melancolia, para uma aceleração quase
hedonista que aos poucos vai expulsando o pessimismo, por um sem sentido
risonho. Jo Shishido, em mais uma ótima performance, encarna com ainda mais
vigor esse herói, anti-herói que passei pelo mundo do crime. Essa é a juventude da besta em sua irreverência jovial, que transgride com o novo as convenções do passado.
Portanto,
Juventude da Besta toca nos mesmos temas comuns ao Noir, além de ter uma forte
influência de Yojimbo do Kurosawa (mesmo sendo uma influência indireta). O
tráfico, a investigação, a máfia, as surpresas, mas sempre subvertendo
esteticamente o gênero, seja com sua ação acelerada, no lugar da lentidão
melancólica, ou ainda, o onirismo, com suas cores exuberantes, no lugar do
expressionismo em seu confronto binário. Conseguindo ser um dos mais inventivos trabalhos
do diretor, com suas técnicas simples, baratas e distintas.
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