quarta-feira, 9 de maio de 2018

2018 – Vingadores: Guerra Infinita (EUA, Anthony Russo e Joe Russo) **** (4.0)


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Eis que a Marvel tinha aqui o seu maior desafio: unir todas as suas narrativas num culminante embate épico que, sobre prescrição de uma expectativa coletiva, deveria ser estrondoso. Verdade seja dita, os Irmãos Russo se saíram muito bem. Conseguindo compor a urgência dos acontecimentos do enredo, com um misto de ação e emoção, e, ainda assim, trazer a comédia tão comum aos filmes da produtora.
            
Bem, como todos já sabem por conta das cenas pós-créditos dos outros dezoito filmes, Thanos, um poderoso ser que está à procura das joias do infinito – duas delas estão com os heróis, a Joia da Mente que se encontra na testa do Visão e a Joia do Tempo, no colar de Dr. Estranho –, assim, surge o mais novo vilão dos Vingadores. Porém, mais que isso, Thanos, interpretado com muita compaixão por Josh Brolin, é, se possível, o protagonista dessa história. Somos inseridos na sua jornada heroica e espiritual. Essa criatura roxa, grande e estranha, construída a partir de um trabalho minucioso e cheio de relevo da captura de movimento tem muita vida, seus olhos impactam, cada pequena expressão, cada gesto. Em sua cabeça o que está para fazer é a única maneira de salvar o mundo de sua autodestruição. Conseguindo reunir as seis joias do infinito em sua manopla ele poderia com o estalar dos dedos exterminar metade do universo, reconstruindo o equilíbrio no universo. Aliás, essa ideia absurda só soa interessante pela forma com que Thanos crê nela, a reproduzindo como um discurso democrático e harmonioso.
            
Para enfrentar esse vilão, que também tem seus capangas, – a Ordem Negra, quatro criaturas também muito bem realizadas com a captura de movimento, podendo citar o Fauce de Ébano como o mais interessante deles – diversos núcleos narrativos são acionados. Durante o filme eles vão se alterando, se repartindo, se remontando, é difícil dizer exatamente quantos núcleos se formam, mas existem alguns em especial que tem seu impacto maior, sendo estes os principais pontos narrativos. O Thor, personagem que teve grande melhora no filme anterior, é derrotado por Thanos e acaba por se encontrar com os Guardiões da Galáxia. Sem perder o humor distinto dos diferentes personagens, os Irmãos Russo conduzem com simplicidade e muita comédia esse encontro, além de dar uma verdadeira força ao personagem do Thor, carregando agora um fardo maior do que esperado, um desejo intenso por vingança. Ele se desmembra dos Guardiões, levando consigo Rockett e Groot, em busca de uma nova arma. Essa sua busca esboça uma jornada de heroísmo reconquistado, um processo de redenção, de força de vontade.
            
Dentro dos Guardiões, a personagem com mais espaço é Gamora, afinal, ela é filha do vilão. Ela o odeia, deseja matá-lo a qualquer custo e ao mesmo tempo deseja morrer se capturada. Thanos pode parecer um brutamontes, um louco, mas de fato contém uma inteligência poderosa e ainda mais um amor perturbador por sua filha. Seu olhar denota uma verdadeira paixão por ela que tanto o odeia. A relação dos dois é construída a partir de um curto flashback e pelo desenvolvimento dos dois durante o filme. É possível perceber a intensidade do vilão nessa relação, pois ela faz parte de sua jornada de uma forma extremamente incisiva. O passado da personagem soa como um fantasma que bloqueia ou impulsiona sua força a depender do momento, os dois caminham juntos por uma jornada específica, a da descoberta.
            
Em Nova York e depois no planeta Titã, Tony Stark e Dr. Estranho fazem uma dupla interessantíssima, acompanhados do Homem-Aranha, que os segue mesmo quando o seu mentor (Stark) o proibiu de participar desse embate. Esses três personagens com certeza são aqueles no qual os irmãos Russo mais se debruçaram em desenvolver suas habilidades, além disso, colocaram a responsabilidade da situação com um grande peso em cima do personagem do Homem de Ferro. Nesse planeta, aliam-se com parte dos Guardiões. Uma das batalhas mais interessante de todo o filme ocorre aqui, em que as sequências de ação contêm um preciosismo em utilizar do trabalho em equipe, explorado a partir da situação e pelos poderes de cada um. Diga-se de passagem, que esteticamente os Irmãos Russo conseguiram impor um efeito de quadrinho muito maior, assistindo as cenas de ação, a forma com que enquadra os personagens, a forma que filma os gestos e movimentos consegue produzir esse efeito. O que potencializa a expressividade dos personagens, que ganham mais contorno, assumindo a sua especificidade.
            
Ainda existe a relação de Visão e Wanda, escondidos na Escócia são atacados de surpresa pelos capangas de Thanos, o que faz o Capitão América – chamando-se agora de Nômade – e seus companheiros a saírem dos seus esconderijos. É bom lembrar sobre os fatos da Guerra Civil que tornou alguns heróis procurados pelo governo, o que impossibilita a ação deles de forma plena. Essa é uma das justificativa de que tanto o Gavião Arqueiro quanto o Homem-Formiga não aparecerem no filme, afinal, são os heróis mais domésticos e talvez lhe faltem a teimosa adolescente de Peter Parker. Bem, eles se direcionam à Wakanda, onde grande parte da trupe do Pantera Negra é reapresentada. Porém, esse núcleo narrativo por conta do imenso número de personagens e até mesmo o pouco tempo de tela desses personagens acabou por se tornar o de menor intensidade. Mesmo que a relação de Wanda e Visão tenha se tornado crível, sensível e poderosa.
            
Pode-se dizer que narrativamente o filme é muito bem organizado, ainda mais devido as suas proporções. Por mais que exista um número gigantesco de personagens que estão em núcleos que se desorganizam e reorganizam o tempo todo, a montagem e o ritmo das cenas conseguiam tornar a estabilização dos acontecimentos de certo fáceis de se compreender. O vetor principal que conecta todas as histórias é Thanos. Apenas no fim que a montagem parece perder um pouco seu efeito, variando em três núcleos específicos, os acontecimentos em cada um dos núcleos estão dessincronizados o que faziam o ritmo solapar de vez em quando. Os efeitos visuais estão com mais relevo que nunca, os mínimos detalhes, os cenários, os poderes, tudo se encontra em sua mais alta forma.
            
Porém, os maiores méritos se concentram aqui na habilidade dos diretores de capturarem a imagem de Thanos como a de um ser que contém uma relevância emocional absurda. Assim como, os roteiristas Markus e Mcfeely, que conseguiram criar uma jornada trágica e intensa para todos os personagens, mesmo que alguns mais desenvolvidos que outros.
            
Guerra Infinita é um evento. Por muitos vai ser considerado uma grande bagunça, afinal, para aqueles que não acompanham à risca os filmes da produtora talvez fiquem perdidos com as alianças, por outro lado, é possível perceber um grau de entendimento das propostas narrativas dos filmes mais recentes. Os Irmãos Russo conseguiram agradar ao grande público, pois surpreenderam, ao mesmo tempo dando aquilo que os fãs já queriam. Criaram uma jornada épica, quase mitológica.

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