
O novo filme de Soderbergh, após
anunciar sua aposentadoria, é uma divertida e engenhosa história de assalto. No
qual se diverte com a complexidade do plano e da peculiaridade de seus
personagens, além de trazer um espírito da cultura sulista dos Estados Unidos.
Afinal, os irmãos Logan planejam roubar o dinheiro arrecado na corrida de
Nascar, o evento mais movimentado dessa região.
A
primeira coisa a vir na cabeça é a proposta de assalto feita pelo diretor que
logo se assemelha à Onze Homens e Um Segredo, porém aqui sem o luxo, sem um
homem conhecido por sua inteligência, sem um grupo grande e articulado. Somos
posto a assistir a ideia de dois irmãos pobres, com pouco estudo, mas que
desejam urgentemente melhorar a situação das famílias deles. Afinal, estamos
falando da população que está desempregada nos Estados Unidos, grande parte dos
sujeitos dessa região conhecidos como “Red Necks” ou ainda “White Trash” vive
numa estagnação terrível e do pouco desenvolvimento de empregos. Sendo essa a
mesma população que Trump convocou em sua eleição. É um interessante e
divertido olhar na cultura e espírito de uma população específica. Ainda mais
quando se fala de NASCAR, o grande coração e efervescência desta cultura.
Os
dois irmãos são Jimmy, interpretado com bastante foco por Channing Tatum, e
Clyde, em seu estilo deadpan e olha duro de Adam Driver, sempre que possível
roubando a cena. Jimmy perdeu seu emprego de operário por conta de um membro
dos recursos humanos tê-lo visto mancando, o que de fato ocorria. Porém, o que
a narrativa parece demonstrar é que isso é apenas um mecanismo usado pela
empresa para dispensar alguns de seus trabalhadores pelo próprio bem deles, ou
para o mal. Principalmente porque Jimmy tem uma filha pequena e sempre tem de
provar para sua ex-mulher que pode cuidar dela. Já Clyde Logan trabalha como
barman na região, ele não tem um dos braços, fazendo uso de prótese. Existe
ainda Mellie interpretada por Riley Keough, que ajuda um pouco seus irmãos e
trabalha como cabelereira. A família Logan tem um histórico ruim em sua região,
a de ser uma das famílias mais azaradas.
Para
realizar o plano de roubo, eles precisam da ajuda de um homem conhecido por
fazer as bombas mais eficazes. Esse homem é Joe Bang, interpretado com uma
insanidade por Daniel Craig. Entretanto, existe um pequeno entrave na situação,
que é: esse homem está preso. A elaboração do plano dos dois é de certo
mirabolante, contudo existe um prazer em observar os inúmeros de detalhes se
acumulando e conduzindo a complexidade de realizá-lo. Aliás, em certo ponto
pode até parecer inverossímil da parte do longa algumas coisas darem certo,
entretanto a minucias nunca nos são contadas, sempre perpassam em elipses, por
isso, somos sempre surpreendidos como cada ação leva a outra.
A
comédia impregnada em todo o roteiro se faz por muitas piadas simples, como Mellie
fazendo o padrasto da filha de Jimmy gritar que gostar de dirigir com o câmbio
– que no inglês se tornar “driving the stick” – ou ainda as piadas relacionadas
à Game of Thrones que ocorrem na prisão de Joe Bang. O dinamismo da montagem e
a trilha sonora dão ao filme um tom de urgência, preparo e um ritmo que torna o
desenrolar de ações sempre muito divertida, indo de um ponto a outro no
autódromo e conseguindo criar coesão nos inúmeros pequenos acontecimentos.
Aliás, existe um uso muito bem realizado de todos os seus personagens
secundários, por mais que alguns tenham uma participação mínima, seja Katherine
Waterson como a enfermeira da região, ou Hilary Swank investigando o caso mais
assiduamente.
Algo
de interessante que Soderbergh realizou neste longa narrativamente, foi
estender o seu enredo de forma inesperada e ainda assim conseguir criar
surpresas e tensões. A cena mais bonita de todo o longa fica para a pequenina
Sadie, filha de Jimmy, desistindo de cantar Rihanna em sua competição (aquelas
famosas competições bizarras na qual crianças se vestem como adultas para
impressionar o público) para cantar a famosa música de John Denver “Take Me
Home, Country Road”. Um verdadeiro hino para West Virginia.
Portanto,
o eterno retorno do diretor, que sempre assume já ter cansado do sistema
industrial do cinema americano, é muito bem-vindo. Sempre com muita
simplicidade visual e enredo bem intricados, consegue com pequenas histórias
divertidas de gênero adentrar em determinados temas inusitados.
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