
O
filme de estreia de McDowell é uma ótima comédia numa mistura com ficção
científica, que traz os conceitos da comédia romântica e os viram do avesso.
Conseguindo ser tenso quando necessário, algo que faltou em seu mais recente
filme, produzido pela Netflix, A Descoberta. Narrando a história de um casal
que está em terapia, já que o relacionamento deles não anda muito bem, o
psicólogo deles sugere que façam uma viagem para uma casa afastada da cidade,
pois diversos casais já haviam ido no local e voltado felizes.
Diversas comédias românticas
americanas trabalham com essa concepção de que em viagens, diversos
contratempos acontecem, porém nesses momentos é que o casal se renova. Ethan,
interpretado com muita confiança por Mark Duplass, e Sophie, interpretada de
forma singela e sutil por Elisabeth Moss, começam como em qualquer comédia,
experimentam a casa, vão a conhecendo e aos poucos já se desentendem, porém, como
num passe de mágica, as coisas começam a dar certo. Quando ficam em ambientes
separados, são atentados por clones de seus companheiros, que no fim das
contas, são como a melhor parte deles, ou a parte que eles gostam mais de seus
companheiros. A façanha do filme é não criar um suspense para com a essa
premissa e simplesmente explorá-la, divertir-se com ela. É extremamente cômico
ver o desespero de Ethan quando sua esposa claramente tem mais bons momentos
com seu clone do que com ele, assim como uma suposta melhor disposição ao sexo,
ao mesmo tempo que ele fica completamente intrigado para como funciona esse
processo. Ele não usufrui das possibilidades, não entra no jogo. Em certo grau,
tem a ver com o que aconteceu com o casal anteriormente e também, com o seu
desejo de descobrir como as coisas funcionam, que para a sua esposa, sempre
acaba por destruir a magia dos mais belos momentos. Duplass se descabela, se
desconcerta, tenta manter-se pleno, enquanto Moss claramente se delicia com a
realização de seus desejos.
Neste problemática apresentada,
McDowell utiliza de uma fotografia ensolarada, mas com toques de frieza, pois
apesar de trazer a premissa de uma comédia romântica, existe pequenos subtextos
em certos momentos que trazem o drama à tona. O diretor concentra bastante de
seus enquadramentos em seus personagens e seus atores, que fizeram um trabalho
exemplar interpretando seus papéis duplos, no qual, conseguem, também, utilizar
bem do pequeno espaço que envolvido na narrativa. Apenas três espaços são
utilizados, a casa, uma casa dos fundos e o gramado. Nesse jogo de gato e rato que
o Ethan produz para desvendar o segredo dos clones, existe uma grande
proximidade com a estética do seriado britânico (mais recentemente comprado pela
Netflix) Black Mirror. Muito por conta de sua temática que mistura uma crítica
poderosa a um conceito de ficção científica. A crítica é mais profundamente
sobre os ideais de amor, como os sujeitos constroem modelos em suas cabeças, na
maioria das vezes ligados à nostalgia, sem se atentar na possibilidade do novo.
Em primeiro plano, parece trazer a mesma ideia base que as comédias românticas,
nenhum amor é perfeito, nenhum relacionamento é, porém, é sempre possível
superar esses problemas (sempre é muito forte, existem relacionamentos danosos,
abusivos, em determinado momento os relacionamentos e o tal amor podem ser
verdadeiras doenças).
Entretanto, o que o diretor parece realmente almejar aqui é
mais severo, do que adianta mentir para si mesmo? Ele não pretende mostrar o
quão fácil é para resolver tais problemas, não basta uma viagem. Há a
necessidade de diálogo, de entendimento, só vendo o outro de um ângulo
diferente para entende-lo, pelo menos, um pouco. Mas o que acontece se você
compara quem está ao seu lado, com quem você sonha estar?
Sendo uma boa comédia e um bom drama, Complicações do Amor
(que perde toda a intensidade do título original “The One I Love”, numa
tradução rápida seria “Aquele que Amo”) é inteligente, bem conduzido e por
vezes amargo. Com ótimas atuações de Duplass e Moss, não só serve como crítica
para os relacionamentos, mas também para a própria comédia romântica.
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