quarta-feira, 27 de setembro de 2017

2014 – Complicações do Amor (Charlie Mcdowell, EUA) **** (4.0)

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O filme de estreia de McDowell é uma ótima comédia numa mistura com ficção científica, que traz os conceitos da comédia romântica e os viram do avesso. Conseguindo ser tenso quando necessário, algo que faltou em seu mais recente filme, produzido pela Netflix, A Descoberta. Narrando a história de um casal que está em terapia, já que o relacionamento deles não anda muito bem, o psicólogo deles sugere que façam uma viagem para uma casa afastada da cidade, pois diversos casais já haviam ido no local e voltado felizes.
            
Diversas comédias românticas americanas trabalham com essa concepção de que em viagens, diversos contratempos acontecem, porém nesses momentos é que o casal se renova. Ethan, interpretado com muita confiança por Mark Duplass, e Sophie, interpretada de forma singela e sutil por Elisabeth Moss, começam como em qualquer comédia, experimentam a casa, vão a conhecendo e aos poucos já se desentendem, porém, como num passe de mágica, as coisas começam a dar certo. Quando ficam em ambientes separados, são atentados por clones de seus companheiros, que no fim das contas, são como a melhor parte deles, ou a parte que eles gostam mais de seus companheiros. A façanha do filme é não criar um suspense para com a essa premissa e simplesmente explorá-la, divertir-se com ela. É extremamente cômico ver o desespero de Ethan quando sua esposa claramente tem mais bons momentos com seu clone do que com ele, assim como uma suposta melhor disposição ao sexo, ao mesmo tempo que ele fica completamente intrigado para como funciona esse processo. Ele não usufrui das possibilidades, não entra no jogo. Em certo grau, tem a ver com o que aconteceu com o casal anteriormente e também, com o seu desejo de descobrir como as coisas funcionam, que para a sua esposa, sempre acaba por destruir a magia dos mais belos momentos. Duplass se descabela, se desconcerta, tenta manter-se pleno, enquanto Moss claramente se delicia com a realização de seus desejos.
            
Neste problemática apresentada, McDowell utiliza de uma fotografia ensolarada, mas com toques de frieza, pois apesar de trazer a premissa de uma comédia romântica, existe pequenos subtextos em certos momentos que trazem o drama à tona. O diretor concentra bastante de seus enquadramentos em seus personagens e seus atores, que fizeram um trabalho exemplar interpretando seus papéis duplos, no qual, conseguem, também, utilizar bem do pequeno espaço que envolvido na narrativa. Apenas três espaços são utilizados, a casa, uma casa dos fundos e o gramado. Nesse jogo de gato e rato que o Ethan produz para desvendar o segredo dos clones, existe uma grande proximidade com a estética do seriado britânico (mais recentemente comprado pela Netflix) Black Mirror. Muito por conta de sua temática que mistura uma crítica poderosa a um conceito de ficção científica. A crítica é mais profundamente sobre os ideais de amor, como os sujeitos constroem modelos em suas cabeças, na maioria das vezes ligados à nostalgia, sem se atentar na possibilidade do novo. Em primeiro plano, parece trazer a mesma ideia base que as comédias românticas, nenhum amor é perfeito, nenhum relacionamento é, porém, é sempre possível superar esses problemas (sempre é muito forte, existem relacionamentos danosos, abusivos, em determinado momento os relacionamentos e o tal amor podem ser verdadeiras doenças).

Entretanto, o que o diretor parece realmente almejar aqui é mais severo, do que adianta mentir para si mesmo? Ele não pretende mostrar o quão fácil é para resolver tais problemas, não basta uma viagem. Há a necessidade de diálogo, de entendimento, só vendo o outro de um ângulo diferente para entende-lo, pelo menos, um pouco. Mas o que acontece se você compara quem está ao seu lado, com quem você sonha estar?

Sendo uma boa comédia e um bom drama, Complicações do Amor (que perde toda a intensidade do título original “The One I Love”, numa tradução rápida seria “Aquele que Amo”) é inteligente, bem conduzido e por vezes amargo. Com ótimas atuações de Duplass e Moss, não só serve como crítica para os relacionamentos, mas também para a própria comédia romântica. 

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