sexta-feira, 22 de setembro de 2017

2017 – Trainspotting 2 (Danny Boyle, Escócia) ***1/2 (3.5)


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Desnecessário surge como a primeira palavra a se dizer sobre essa continuação, o filme não se justifica como uma sequência, não demonstra a necessidade do espectador rever esses personagens em 2017. A única coisa que consegue mesmo é a nostalgia, personagens que vivem de nostalgia, de tudo que um dia foram e não conseguiram mais ser. T2 não é um filme ruim, difícil ser com personagens tão cativantes e atuações tão exemplares.
            
É gratificante ver como o Ewan McGregor consegue entrar na personalidade de Renton novamente e ainda demonstrar a passagem do tempo no mesmo. Conseguindo emular até mesmo sorrisos e maneirismos de seu personagem novamente, é possível falar isso de todos. Jonny Lee Miller como Sick Boy, que continuar a tingir seus cabelos, ainda ingênuo, porém mais cauteloso com os próprios amigos. Ewen Bremner como Spud, que vivência a mesma dor e loucura do seu personagem no primeiro filme, porém, com mais vontade de melhorar que antes e, por fim, Robert Carlyle que explode violência como Begbie. Diferente do primeiro filme, é difícil ver todos esses personagens juntos nesta sequência. Enquanto Sick Boy ainda no mundo do crime, e viciado em cocaína, tenta construir um bordel para sua namorada (jovem), seu trabalho é chantagear homens poderosos para conseguir o dinheiro, Renton está com problemas cardíacos, se separou da mulher que arranjou e volta à Edimburgo, pois não tinha outro lugar para ir. O filme foca mais nestes dois personagens, assim como no primeiro. Existe ainda um tremendo momento em que o discurso icônico do “Choose Life...” é completamente desconstruído e talvez se tornando ainda mais niilista, diga-se de passagem, por mais que os personagens vivam outros momentos de sua vida, não deixam de ser extremamente niilistas.
            
Danny Boyle, sempre impondo diversos recursos cinematográficos de uma vez em seus filmes, exagera um pouco, mas consegue recriar a genialidade estética do seu antecessor. O tom sujo se mistura com as luzes neon que tomam conta do submundo de várias partes do mundo, movendo sua câmera sempre com rapidez, às vezes usando de ângulos holandeses de forma pouco útil, Boyle, tenta a todo momento mostrar que é o mesmo do filme anterior. Assim como os seus personagens, embebidos em nostalgia. Este acaba por ser o principal ponto deste filme, a nostalgia, pois o diretor, seus personagens todos parecem viver dessa sensação, até mesmo o Spud, que tem uma das histórias mais pessimistas narradas, porém resolve escrever tudo que de interessante e triste aconteceu com ele e seus amigos nos últimos anos, produzindo um livro. Completamente guiado por Nikki, a namorada de Sick Boy, interpretada pela jovem Anjela Nedyalkova, a única personagem que parece tentar realmente pensar no futuro dela, acaba por ser a personagem chave para que eles possam contar, narrar novamente, suas histórias e aventuras, como grandes heróis, drogados qualquer, ou ainda niilistas em busca de paz. Substituindo a Diane, interpretada novamente por Kelly McDonald, que seguiu adiante, diferente de todos os outros. Talvez com essa decisão esteja fazendo um comentário sobre a masculinidade decadente, que ao chegar numa fase de sua vida que já não é mais como o seu ápice de suposta virilidade, se perdem nas suas próprias narrativas do passado.
            
O filme é ainda recheado de referências ao primeiro filme, como a já citada recriação do eloquente discurso de Renton, mas também o momento da privada, claro, que com suas mudanças. Sem a magia que a heroína, ou melhor o pesadelo que a droga produzia em seus personagens. A última cena em específico, na qual Renton entra em seu quarto antigo recheado de trens no papel de parede e começa a dançar ao som de Lust for Life de Iggy Pop, a música tema do filme. Boyle ainda impõe uma movimentação da câmera e um uso de efeitos visuais fazendo com que os trens da parede ganhem movimento e o quarto se torne infinito. Não só remetendo ao título que é uma gíria escocesa que significa atividade sem sentido, assim como seu significado literal, o de observar os trens passar.  
            
Sim, o filme é completamente autoconsciente de que está falando de nostalgia e usa isso a seu favor, porém abusa disso para recriar momentos do primeiro filme. Com um enredo pouco envolvente T2 é um bom filme, que deixa um gosto nostálgico mesmo, faz o espectador querer assistir ao primeiro filme novamente. 

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