sexta-feira, 22 de setembro de 2017

2016 – A Autópsia (André Ovredal, EUA e Noruega) ***1/2 (3.5)

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A Autópsia é um dos poucos filmes realizados sobre a temática que é bem narrado, lentamente se construindo. Ovredal usa de recursos cinematográficos dos mais usuais para construir um filme de terror sólido, porém seu roteiro enfraquece ao fim. Contando a história de um jovem e seu pai que trabalham como legistas no fundo de suas casas, quando chega um corpo misterioso para eles investigarem.
            
A grande potência de tensão do filme se concentra no uso de iluminação inicialmente. Sempre conduzindo o medo do espectador pela maneira que manipula as luzes do ambiente, enquanto na sala de autopsia uma luz límpida clareia o ambiente de forma ascética, nos corredores, a luz já se encontra mais frágil, sempre com algum ponto misterioso. Sem contar um ótimo uso dos reflexos, que tornam a ambientação ainda mais forte. Ovredal já demonstrou sua habilidade com a câmera de mão e aqui não deixa de usá-la, conseguindo criar por vezes cenas subjetivas dos personagens extremamente interessante para produzir tensão. O diretor, também, tem a ajuda de dois ótimos atores como Brian Cox, interpretando Tommy, o doutor e Emile Hirsch, interpretando seu filho, Austin. Os dois constroem muito bem seus personagens tornando todo o drama deles crível, a dificuldade da perda da esposa de Tommy, ou ainda a própria dificuldade de Austin de seguir outro rumo para além de sua família. Portanto, o longa consegue muito bem expressar a dramaticidade de uma história simples e ainda produzir uma tensão real. Por mais que exista uma certa previsibilidade de que tudo vai dar errado, o ritmo que é imposto de cada descoberta sobre o corpo é lento e necessário. Tornando o corpo em autopsia um verdadeiro mapa para a morte daquela pessoa, um mapa confuso e perturbador.
            
Saber a história do corpo se torna um dos pontos mais intrigantes do enredo, pois o diretor não só brinca com algumas tradições dos legistas (possivelmente inventa algumas), como também deixa bem notório qual é o real trabalho desta profissão e não necessariamente se encaixa no de detetive. Um único objetivo, apenas, a causa da morte, todo o resto deve ser com a polícia. Porém, a cada detalhe encontrado no corpo é possível sentir-se com uma necessidade intensa de saber mais, quase que de forma ritualística. Em certo momento, por conta de todas as peças que já foram descobertas, o filme realmente se torna previsível e é neste momento que começa a se perder. Pois, tenta não seguir o curso de sua narrativa, com resoluções desnecessárias, fazendo os personagens realizarem ações completamente sem sentido, assim como, explicarem, ou melhor auto explicarem em voz alta tudo que ocorre ao seu redor, como se houvesse alguma complexidade do espectador compreender. Talvez o cinema de terror tenha criado uma espécie de contraposição ao Deus Ex Machina, quando força para que tudo der errado no fim, em contraposição aos filmes de aventura e ação.
            
Apesar de como um todo não ser um filme exemplar, pois seu enredo procura resoluções, sentidos e significados demasiadamente objetivos. Enquanto todo o seu horror e drama haviam sido construído de maneira sensorial e subjetiva. Pelo menos, de fato, consegue causar bastante tensão e manter-se como um bom filme por muito tempo.

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