
Um
drama independente, intenso, com a uma montagem sensível, se guiando pelos
afetos de seus personagens, ou melhor de sua protagonista. Existe com certeza
um tom autobiográfico, pela intimidade e lirismo que o diretor impõe ao
movimento de câmera, ao ambiente que restringe todo o filme. Esta personagem é
Krisha, que após anos ausente de sua família, retorna no dia Ação de Graças.
O filme foi produzido pela A24 que
vem se estabelecendo como uma ótima produtora para filmes independentes, no
qual, o diretor Shultz gravou o longa em apenas nove dias, em um único
ambiente, que era muito conhecido por ele. Muitos dos atores escolhidos fazem
parte da mesma família de fato, o que ajudou em construir as relações íntimas
em simples devaneios. Ele ainda monta o filme com planos longos nos quais os
personagens criam seus modelos gestuais, seus detalhes com muita naturalidade e
espontaneidade, quando usa de planos mais curtos, constrói intensidade no
momento. A fotografia que parece ter usado bastante da luz natural, soa
simples, mas com cores fortes, o vermelho se sobressai em algumas cenas, assim
como o verde do gramado. Sem muitas falas, as relações são entendidas, Krisha
chega em casa, seu filho, já adulto e interpretado pelo próprio diretor, não
parece dar muita atenção. É notório nos olhos da atriz, Krisha Fairchild, a dor
que o seu tempo ausente lhe fez causar em si mesma e nos outros, nada precisa
ser dito nestes momentos, pois a intensidade das atuações e da composição de
cena são o suficiente para contar a síntese de uma grande história. Percebe-se
por meio de alguns diálogos com o marido de uma de suas irmãs que ela esteve
ausente por conta de alguns vícios, com drogas e afins, este diálogo nunca é
mostrado de forma integral, sempre com cortes para outros momentos, detalhes
pequenos, como se construísse as sensações de sua personagem com a montagem.
Existem outros grandes momentos da
fotografia e dos recursos técnicos, como a pequena briga dos cachorros, as
confusões de dois primos que o tempo todo disputam, tudo isso aumentando a
ambientação familiar e fechada deste grupo. De certa forma, até mesmo
tradicionalista. Em dado momento, Krisha resolve fazer o grande Peru da festa,
mas é tão notório como ela não faz parte daquele ambiente, como tudo aquilo
parece estar a afastando cada vez mais. O julgamento dos olhares, o receio dos
outros e, mais forte, a ausência do filho, que por mais que esteja, depois de
anos, na mesma casa que ela, rejeita seus olhares. Os últimos momentos desse
curto, mas poderoso filme são, de certa forma, extremamente previsíveis, até
mesmo ao já enxergar desde o começo uma instabilidade no rosto da personagem,
porém não deixam de impactar pela atuação magistral de todo o elenco e do
trabalho fantástico de composição de cena, tudo isso em sincronia com a
montagem que tem um ritmo afetivo muito bom. O jantar de Ação de Graças é o
verdadeiro cúmulo do melodrama do cinema americano, tendo isso em vista, a cena
parece seguir uma tradição de filmes, que utilizam deste momento como
concomitante para emoções exacerbadas e intensas.
Em sua estreia como diretor, Trey
Edwards Shultz realiza um ótimo filme, com uma fotografia simples e eloquente,
uma narrativa intimista e extremamente afetiva. Deixando bem notório todo o
amor envolvido na produção do longa, assim como toda a tristeza. Com atuações
ótimas, principalmente Krisha Fairchild, que tornam os close-ups do filme
verdadeiras pinturas.
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