
Woody Allen é um diretor que
faz um cinema extremamente autoral, alguns podem até mesmo achar repetitivo,
porém seus diálogos neuróticos sempre tocam em pontos de extrema conexão ou de
total absurdo. Neste longa, produzido no início dos anos 90, o diretor constrói
uma homenagem aos pequenos livros de suspense, junto com sua melhor expressão,
o Noir americano, reconstruindo de maneira moderna a última de cena de A Dama
de Xangai do Orson Welles. Trazendo novamente Diane Keaton no papel de esposa,
assim como em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall para os íntimos) e o
próprio diretor como o marido da mesma, o casal se envolve num possível caso de
assassinato.
É impressionante como a relação e a vivacidade dos dois
consegue permanecer intacta depois de muitos anos, Diane Keaton continua
brilhando e criando faíscas em tela. Woody Allen nunca foi um eximo ator, porém
interpreta muito bem ele mesmo em seus filmes. A introdução no enredo do caso
de assassinato ocorre de maneira bem cômica, primeiro pelo fato de existir uma
tensão, já que a personagem de Diane Keaton, Carol, está com um ímpeto de
mudanças, ou melhor, de busca por momentos que a tirem da zona de conforto que por
vezes é alcançada após tantos anos em uma mesma rotina. Dessa forma, conversa
sobre assuntos diferenciados com um amigo do casal, o que apenas deixa Larry, o
personagem do diretor, levemente insatisfeito. Segundo, por eles conhecerem a
senhora supostamente assassinada no dia anterior de sua morte, o que acaba
mexendo ainda mais com os afetos e com a memória dos dois. Porém, como de
praxe, Larry, em sua neurose, prefere não se envolver, fazendo de tudo para
evitar qualquer relação com a situação, por vezes até mesmo se iludindo com
algumas provas absurdas. Já Carol, ao lado de seu amigo, começa a se envolver
cada vez mais, em busca de entender o que está acontecendo, sentindo-se como
uma jovem novamente, fazendo a adrenalina correr em seu corpo.
Se os personagens sozinhos conseguem ser extremamente
cativantes e divertidos, com seus diálogos rápidos e corriqueiros, o mistério é
uma verdadeira tramoia que deixaria o Hitchcock completamente entretido.
Obviamente, Allen não é um gênio em construir suspense, mas consegue,
principalmente com homenagens ao próprio cinema construir momentos muito interessantes.
Como a cena assustadora em que Larry e Carol ficam presos no elevador.
Parecendo este ser um dos seus principais propósitos, reconstruir por meio do
cinema noir e do suspense do passado um senso de adrenalina e vivacidade em
seus personagens já envelhecidos. Por isso, existe uma homenagem bem forte ao
filme de Orson Welles, A Dama de Xangai, mais especifico em sua última cena,
que o personagem do próprio Welles (como Woody Allen, Orson Welles também
dirige e protagoniza seu filme) entra e se perde numa sala de espelhos, uma
cena que parece existir no imaginário coletivo de todo amante do noir. Allen
reconstrói a cena de maneira inusitada, em um cinema velho onde o filme está
sendo exibido e suas imagens refletem em diversos espelhos espalhados por todo
o espaço, como se o seu personagem caminhasse sobre uma influência direta do
que estava vivendo. Melhor explicando, Allen tenta com esta metáfora demonstrar
que o que move a adrenalina de seus personagens é o suspense, o suspense tão
famoso pelo cinema, pelo processo cinematográfico.
O diretor ainda propõe um uso de câmera de mão para cenas
que normalmente em seus filmes compõem-se com câmeras estáticas, poderia ser a
adrenalina embutida pelo desejo de seus personagens, ou uma tentativa de
renovação de estilo com o passar de tanto tempo, é preciso analisar mais filmes
do mesmo período para demarcar. Mas é uma proposta que funciona com a narrativa
deste filme, o suspense, a espionagem e que discute, principalmente, o
relacionamento dos dois personagens, acima de tudo.
Por fim, é sempre bom ver como um diretor tão prolífico
quanto Allen consegue produzir tantas boas histórias, não por inovação, pois o
que mais faz é se repetir, mas simplesmente por saber narrar, ou melhor
percebe-se uma voz, um diretor, uma estética presente em seus filmes. Um
Assassinato Misterioso em Manhattan é engraçado e cheio de pequenos suspenses,
que homenageiam de boca cheia o gênero.
Gostei! Parece o tipo de filme que me interessa
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