
“Mesmo
sendo difícil ser um humano não vamos nos transformar em monstros”
Hong Sang-Soo é um dos diretores mais interessantes da atualidade, o que mais carrega consigo a herança da Nouvelle Vague, principalmente àquela de Eric Rohmer, certo formalismo, um olhar penetrante sobre os relacionamentos vazios. O Portão do Regresso é a história de um decadente ator de teatro, que após ter sido culpado pela má recepção da sua mais recente peça decide viajar ao encontro de um antigo amigo do colégio para abstrair, logo se envolve com uma mulher chamada Myung-Suk, uma amiga de seu antigo companheiro do colegial. Como de costume para o diretor sul coreano, monta o filme com uma estrutura narrativa muito bem definida e extremamente ligada ao seus personagens. Logo, em sua segunda parte, ao voltar de viagem, conhece Sun-Young no ônibus e acaba se envolvendo com ela posteriormente.
O protagonista Kyung-Soo (que divide o sobrenome com o
diretor) tem características muito marcantes, sendo um sujeito alienado que
busca refúgio no passado pelo medo de seu futuro. A própria busca pelo antigo
amigo demonstra isso, em alguns diálogos mostra apreço pela juventude que um
dia tivera, e como de costume nos filmes do diretor, bebe de forma desordenada.
Ao conhecer Myung-Suk se impressiona com a maneira que ela se expressa, “bebo
porque gosto do sabor”, com uma simples frase e pela composição da atriz a
personagem se constrói como uma mulher forte, mas ela se apaixona pelo
Kyung-Soo, que aos poucos enjoa dela, ficou impressionado com a obsessão que a
mulher rapidamente desenvolveu. Renegando assim um amor que o pareceu absurdo
demais, exagerado demais. Talvez não estive preparado para uma mulher mais
moderna que ele, talvez, ela o lembrasse do futuro.
Ao conhecer a jovem Sun-Young, ele é mais uma vez tragado
ao passado, descobrindo pouco a pouco da vida dela, e vai encontrando o refúgio
que esteve procurando. Outra característica do personagem é o quanto sua
personalidade é frágil, ao sempre incluir de maneira forçada em seu vocabulário
expressões de outros, porém, são frases que o marcam profundamente e aos poucos
vão construindo um ética do personagem. Ele se encontra perdidamente apaixonado
por Sun-Young, ou seria pelo passado? Infelizmente, existem questões demais
para que esse relacionamento dê certo e aí que o título se introduz. Na viagem
que fizera, escuta a história do Portão do Regresso, uma lenda chinesa. Kyung-Soo não se interessou em visitar o portão,
ele não queria encarar a sua realidade.
Hong Sang-Soo construiu um filme com um roteiro muito bem
organizado, leve e extremamente triste, ao contar a história de personagens sem
perspectiva de futuro e com uma melancolia no presente. Não é à toa que o vermelho
se impregna em seu filme, a cor do amor, do sexo, mas como o personagem diz no
fim “Eu não quero mais sexo, apenas morrer puro
e inocente”, então, por que não tristeza? O Vermelho se tornou a melancolia que
persegue o personagem em todas as cenas.
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