
Bem, o documentário não é meu
modo de cinema favorito, acredito que o interessante do cinema é a linguagem
ser criadora, não de novo, mas de produção ou melhor, expressão do real. Quando
se tem o real exposto em tela apenas por falas ou imagens casuais, sem o
agenciamento de encontros promovido pela montagem sinto que algo se perde da
linguagem. Aqui, pensando na montagem como Eisenstein pensa, o processo geral,
não apenas de organização de cenas, mas da organização dentro do quadro, de sua
iluminação, de seu roteiro, etc. Não querendo rebaixar o documentário, pelo
contrário, quero dizer que ele tem um modo muito único e da mesma forma
potente. Obviamente que existe uma montagem para o documentário, mas ela é tão
distinta da promovida nos filmes de ficção.
Sua aproximação com real é forte ao ponto de nos
emocionar com muito mais facilidade que o usual e seu efeito sobre o tema é
ensurdecedor, até mesmo por conta de um documentário chamar o espectador pelo
seu tema, não por sua linguagem, já um filme de ficção chama o público por sua
linguagem em conexão com seu tema. São poucos aqueles que conseguem usar da
linguagem cinematográfica ao seu favor, pois muitos documentários parecem
lições de história de tão didáticos e prolixos. Entretanto, o filme em questão,
de Wim Wenders (que transita muito bem entre a ficção e o documentário) e o
Juliano Salgado, é simples e nos coloca cara a cara com as imagens produzidas
por Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro que viajou o mundo capturando
momentos obscuros da sociedade.
Contendo muitas vezes a própria narração de Salgado,
comentando sobre suas fotografias, construindo na imagem um outro mundo, tantas
coisas que em uma olhada rápida não se consegue ver. A Imagem é poderosa. O
filme expõe diversas fotografias dele, de todos os seus livros, entre elas
algumas marcantes como as fotografias no Brasil, sobre Serra Pelada, ou em
Sahel, retratando a fome nos desertos africanos.
A beleza do documentário é mostrar o processo histórico
do seu personagem e da maneira que o fotógrafo, principalmente aquele de cunho
social, carrega o peso do mundo nas suas costas, tendo como função dividir esse
peso para transforma-lo. Após anos, Salgado se viu desesperado, não aguentava
mais tanta tristeza no mundo, como as profundezas do mundo são terríveis e
poucos sabem o quão elas são. Optando mais recentemente por uma abordagem da
beleza natural, com os índios, animais, tudo.
O mais belo é ver que o tema de suas fotografias mudou,
mas a suas fotografias não, por mais que não vejamos o sofrimento na imagem,
sempre enxergávamos uma conexão do homem à terra, do homem em comunhão, se
misturando ao mundo, como ele mesmo disse o ser humano é o sal da terra, e por
fim, todos os seres vivos são o sal da terra.
Wenders construiu um documentário
simples, intimista e afetuoso sobre um homem com um olhar diferente, o homem
capaz de capturar as afecções do mundo.
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