Trabalhando com o grande astro da
Nikkatsu, Suzuki realiza algo que parece passar entre a sátira e a total imersão
no gênero televiso policial americano. Mas se existe algo que parece se
pronunciar aqui é mais uma crítica ao colonialismo americano do pós-guerra no
modo de vida japonês, utilizando do exagero colorido do pop-art. Por muitos
caracterizado como um estilo Gonzo de se fazer cinema, ou seja praticamente uma
ação desenfreada com pouca lógica, mergulhando de cabeça no gênero americano.
Ou talvez houvesse uma forma peculiar de subversão?
Tajima, interpretado por Jo
Shishido, é um detetive policial que trabalha em desacordo com a polícia, é
difícil saber exatamente quando está tentando desvendar o caso, ou quando
apenas quer se dar bem. O ponto culminante que o levou a investigar o caso foi
um terrível tiroteio numa encruzilhada, a partir desse motivo o personagem vai
fazer de tudo, enganando qualquer um dos lados, sejam os mafiosos da yakuza ou
a própria polícia, para conseguir resolver o caso. Em seu tom frenético e
movimentos velozes, a câmera de Suzuki acompanha com a mesma vivacidade do Jazz
essa sua empreitada narrativa em cores. A trilha sonora ganha um papel ainda
mais crucial narrativamente ao se aliar da montagem e do movimento de câmera
para criar um ritmo intricado. Algumas sequências em especiais parecem até
mesmo um musical, como por exemplo, quando as gangues esperam a saída de um
informante da polícia, capturado por Tajima. Todos armados, movendo-se como um
corpo só, enquanto o Jazz cintilante e preparatório faz o espectador almejar o
ponto de eclosão.
O que torna essa obra cômica, além
do próprio absurdo do personagem de Tajima, quase um Macgyver que resolve toda
e qualquer situação, são as sequências em escritórios. Apesar de curtas e
simples, existe um humor que satiriza com o próprio processo genérico do
seriado policial. Desde o primeiro momento que o protagonista do filme se
apresenta na delegacia se instala essa proposta de subverte pelo absurdo a
lógica policial, como diz um dos policias “aqui não é um seriado americano”.
Além disso, ainda existem as pequenas sequências dentro do escritório 2-3, o
verdadeiro local de trabalho de Tajima, com dois escudeiros, que são como
caricaturas de jornalistas de tabloides. No fundo, são todos picaretas, são
personagens esquemáticos para explicitar as diversas manobras do enredo. Já que
Tajima vai de um lado para o outro tão rapidamente que pode acabar confundindo
o público.
Uma das coisas que mais se ressaltam
neste longa do diretor é o seu já explícito toque para o uso da cor nos
cenários e nas vestimentas. Quando o informante visita sua namorada, no qual o
cenário da casa é iluminado por cores básicas e forte, o vermelho e o amarelo
se contrapondo, construindo um onirismo próprio do melodrama americano de
Douglas Sirk. Ou ainda, a divertida cena, na qual Tajima encontra com uma amiga
que é dançarina de um bar, para não sair do disfarce entra na dança. Esse é o
momento mais musical do longa, no qual os dois cantam e dançam, dá até para
dizer que Jo Shishido levaria jeito para o gênero, com seu estilo meio robusto,
mas com certeza com uma força cômica em seus movimentos. A cor na nessa
sequência se destaca no vermelho do vestido da amiga dançarina, que destoa do
universo preto e branco que vivem os yakuzas e polícias.
É importante dizer que essa
investida no gênero policial da máfia de Suzuki, com esse tom cômico e meio
absurdo, só consegue se sobressair pela presença sempre icônica de Jo Shishido.
Suas bochechas gigantescas, próteses artificiais para torná-lo mais robusto
estranham, ao mesmo tempo que tornam seu rosto perfeito para um personagem tão
ilustre. Se tornando uma figura entre uma beleza rude, ao mesmo tempo com uma
comicidade por lembrar um esquilo cheio de nozes na boca. Ele queria deixar de
parecer um menino de papéis românticos para tornar-se uma estrela dos filmes de
Yakuza, com um rosto forte e foi isso que conseguiu. Em seu devir-esquilo tornar-se maior que o próprio quadro.
Esse longa de Suzuki carrega consigo
ainda uma construção do seu estilo, por mais que já traga a vivacidade do
movimento de câmera, as cores abstratas e certo acontecimentos absurdos. Ele
procurava lançar os filmes que os jovens, a nova geração japonesa gostasse de
assistir, como uma proposta de retomada da juventude para o cinema, ao mesmo tempo
que produzia uma sátira sutil ao modelo americano de fazer cinema policial.
Quanto mais fizesse esse tipo de filmes, mas levaria ao extremo o absurdo e a
possibilidade de realizar qualquer coisa em cena.
Portanto, A Agência de Detetive 2-3
é um divertido filme que consegue trazer um espirito de época instigante, além
de ter um ritmo forte. Estando sempre no espaço entre a imersão no gênero e a
subversão do mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário