segunda-feira, 16 de abril de 2018

1963 – Agência de Detetives 2-3 (Seijun Suzuki, Japão) **** (4.0)


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Trabalhando com o grande astro da Nikkatsu, Suzuki realiza algo que parece passar entre a sátira e a total imersão no gênero televiso policial americano. Mas se existe algo que parece se pronunciar aqui é mais uma crítica ao colonialismo americano do pós-guerra no modo de vida japonês, utilizando do exagero colorido do pop-art. Por muitos caracterizado como um estilo Gonzo de se fazer cinema, ou seja praticamente uma ação desenfreada com pouca lógica, mergulhando de cabeça no gênero americano. Ou talvez houvesse uma forma peculiar de subversão?
            
Tajima, interpretado por Jo Shishido, é um detetive policial que trabalha em desacordo com a polícia, é difícil saber exatamente quando está tentando desvendar o caso, ou quando apenas quer se dar bem. O ponto culminante que o levou a investigar o caso foi um terrível tiroteio numa encruzilhada, a partir desse motivo o personagem vai fazer de tudo, enganando qualquer um dos lados, sejam os mafiosos da yakuza ou a própria polícia, para conseguir resolver o caso. Em seu tom frenético e movimentos velozes, a câmera de Suzuki acompanha com a mesma vivacidade do Jazz essa sua empreitada narrativa em cores. A trilha sonora ganha um papel ainda mais crucial narrativamente ao se aliar da montagem e do movimento de câmera para criar um ritmo intricado. Algumas sequências em especiais parecem até mesmo um musical, como por exemplo, quando as gangues esperam a saída de um informante da polícia, capturado por Tajima. Todos armados, movendo-se como um corpo só, enquanto o Jazz cintilante e preparatório faz o espectador almejar o ponto de eclosão.
            
O que torna essa obra cômica, além do próprio absurdo do personagem de Tajima, quase um Macgyver que resolve toda e qualquer situação, são as sequências em escritórios. Apesar de curtas e simples, existe um humor que satiriza com o próprio processo genérico do seriado policial. Desde o primeiro momento que o protagonista do filme se apresenta na delegacia se instala essa proposta de subverte pelo absurdo a lógica policial, como diz um dos policias “aqui não é um seriado americano”. Além disso, ainda existem as pequenas sequências dentro do escritório 2-3, o verdadeiro local de trabalho de Tajima, com dois escudeiros, que são como caricaturas de jornalistas de tabloides. No fundo, são todos picaretas, são personagens esquemáticos para explicitar as diversas manobras do enredo. Já que Tajima vai de um lado para o outro tão rapidamente que pode acabar confundindo o público.
            
Uma das coisas que mais se ressaltam neste longa do diretor é o seu já explícito toque para o uso da cor nos cenários e nas vestimentas. Quando o informante visita sua namorada, no qual o cenário da casa é iluminado por cores básicas e forte, o vermelho e o amarelo se contrapondo, construindo um onirismo próprio do melodrama americano de Douglas Sirk. Ou ainda, a divertida cena, na qual Tajima encontra com uma amiga que é dançarina de um bar, para não sair do disfarce entra na dança. Esse é o momento mais musical do longa, no qual os dois cantam e dançam, dá até para dizer que Jo Shishido levaria jeito para o gênero, com seu estilo meio robusto, mas com certeza com uma força cômica em seus movimentos. A cor na nessa sequência se destaca no vermelho do vestido da amiga dançarina, que destoa do universo preto e branco que vivem os yakuzas e polícias.
            
É importante dizer que essa investida no gênero policial da máfia de Suzuki, com esse tom cômico e meio absurdo, só consegue se sobressair pela presença sempre icônica de Jo Shishido. Suas bochechas gigantescas, próteses artificiais para torná-lo mais robusto estranham, ao mesmo tempo que tornam seu rosto perfeito para um personagem tão ilustre. Se tornando uma figura entre uma beleza rude, ao mesmo tempo com uma comicidade por lembrar um esquilo cheio de nozes na boca. Ele queria deixar de parecer um menino de papéis românticos para tornar-se uma estrela dos filmes de Yakuza, com um rosto forte e foi isso que conseguiu. Em seu devir-esquilo tornar-se maior que o próprio quadro.
            
Esse longa de Suzuki carrega consigo ainda uma construção do seu estilo, por mais que já traga a vivacidade do movimento de câmera, as cores abstratas e certo acontecimentos absurdos. Ele procurava lançar os filmes que os jovens, a nova geração japonesa gostasse de assistir, como uma proposta de retomada da juventude para o cinema, ao mesmo tempo que produzia uma sátira sutil ao modelo americano de fazer cinema policial. Quanto mais fizesse esse tipo de filmes, mas levaria ao extremo o absurdo e a possibilidade de realizar qualquer coisa em cena.
            
Portanto, A Agência de Detetive 2-3 é um divertido filme que consegue trazer um espirito de época instigante, além de ter um ritmo forte. Estando sempre no espaço entre a imersão no gênero e a subversão do mesmo.

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