quarta-feira, 18 de abril de 2018

2017 – O Castelo de Vidro (Destin Daniel Cretton, EUA) *** (3.0)


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Baseado em fatos, o Castelo de Vidro é um filme que se aproxima muito com a proposta de Capitão Fantástico, filme de 2016 dirigido por Matt Ross. Isso ocorre por dois motivos, primeiro em seu conteúdo mais explícito que é o desenvolvimento e relação de uma família nômade, cheia de ideias que fogem ao padrão, e segundo, na forma de abordagem que mistura a comédia e o drama. Dessa forma, narra a vida de Jeannete Walls por flashbacks, no qual apresenta sua difícil vida com seus pais, da infância à adolescência.
            
Brie Larsson faz sua participação como Jeannete Wall mais velha, com seu noivo, sua vida de luxo e dinheiro, na qual relembra de seu passado, assim como em sua adolescência, já demonstrando uma grande variedade de facetas de sua personagem. As jovens atrizes Chandler Head e Ella Anderson, fazem dois momentos distintos da infância da personagem, na qual vê todas as ações de seu pai como verdadeiros atos heróicos. Rex, interpretado com devida competência por Woody Harrelson, é um pai cheio de sonhos que se desfazem com uma velocidade imensa, cheio problemas encobertos e um grande problema em relação a sua própria figura. Acreditando ter certa superioridade ética e intelectual sobre os outros, mesmo parecendo ser o completo inverso disso. Já Rose Mary, interpretada por Nicole Kidman, trabalha sempre com arte e age como alguém que pouco liga para seus filhos.
            
A estranheza dos pais de Jeannete é tamanha que, apesar de serem pessoas reais, parecem caricaturas. E mesmo que expressem sim diversas qualidades e supostos ensinamentos para a vida futura de seus filhos – sim, existem mais três filhos, Brian, Lori e a pequena Maureen -, eles se tornam personagens tão odiosos com o decorrer do longa que ao fim da sessão é de certo difícil de simpatizar com a noção de família exposta. A pouca noção do que realmente estão fazendo sempre se conota pelas consequências realistas de suas ações, mesmo que tentem conotar uma espécie de sabedoria de vida. Essa forma caricata chega a se tornar cômica em determinados momentos, enquanto o peso do drama perde sua ênfase e vai se tornando vulnerável. Não porque essas duas qualidades não se misturam, mas sim pelo fato de terem sido mal agenciadas no enredo deste filme.
            
Os momentos de felicidade e tristeza se misturam rapidamente. A todo momento a protagonista do enredo é afrontada com a figura de seu pai sendo completamente destruída. Não é à toa que eles dois cultivem a obra do castelo de vidro como uma casa ideal. Uma casa que permite que tudo seja visível, mas permanece com uma fragilidade inerente à delicadeza do vidro que almejam. Cretton utiliza a câmera de mão em momentos específicos, tanto de tristeza, quando de alegria, são cenas que crescem pela perspectiva móvel da câmera, pois acrescentam a tensão ou a leveza, os grandes polos da relação dela com seu pai. 
            
A grande questão dessa mistura em certo ponto narrativo reside no fato de que Rex era um pai abusivo, no sentido que ele constrangia e humilhava, até mesmo maltratava de certa forma seus filhos. O longa em certo momento faz parecer que essa situação é normal, pois no fundo são todos do mesmo sangue. Mesmo que exista a resistência de Jeannete, seus atos de rebeldia e seja lá o que mais. Sendo a história real, narrativamente o longa encontra-se num impasse de não conseguir produzir esse afeto no espectador quando seus personagens são tão odiáveis.
            
Visualmente o longa segue por uma esquematismo das ações e da lógica do que é apresentado. Apenas nos momentos que deixa a câmera mais livre que consegue produzir não só imagens com mais força, mas de fato cenas e sequências que perduram narrativamente e afetuosamente no espectador. A opção por intercalar flashbacks à narrativa, culminando à chegada no presente se torna algo que prejudica o ritmo do filme, pois a montagem não é tão bem realizada.
            
Portanto, o segundo filme de Cretton conta uma interessante história real sobre uma família complexa, abusiva para ser mais preciso. Que tenta tirar uma lição de moral e de afeto para a noção própria da família, mas por conta da forma pouca criativa que a história vai ganhando forma acaba por enfraquecer qualquer potencialidade do longa.  

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