
Era
inevitável que Iwaii retornasse aos seus personagens mais singelos e
divertidos. Essa animação em rotoscópia serve de prequel para o seu famoso
filme Hana e Alice. Não sei dizer o quanto foi escolha do diretor utilizar a
animação, mas se tornou a escolha mais viável pelo fato de já terem se passado
11 anos do longa na qual essa obra se fixa, os atores provavelmente já nem
lembram mais os seus personagens fisicamente, além de ser uma história do
passado delas. Narrando a histórias dessas duas personagens novamente, mas
agora, para ser exato como as duas se conheceram.
Acerca da animação em rotoscópia, é
inegável que ele estranhe os olhos acostumados a outros modos de animação como
o 2D, ou 3D. Entretanto, pouco se percebe da possibilidade de fluidez que ela
permite a toda e qualquer cena. Essa técnica é uma precursora da captura de
movimento, pois transforma atores em animação. É certo que os ambientes carecem
de detalhes, ou que os personagens parecem sem tantas particularidades também,
mas existe uma força gestual em cada um deles que torna essa técnica de certo
algo de interessante. Richard Linklater já a usou em dois de seus filmes,
experimentando a fluidez e maleabilidade dos sonhos. Iwaii exprime esse
movimento da amizade juvenil, os gestos e movimentos inesperados e carregados
de vida.
O exagero comum ao anime, dos
movimentos espalhafatosos e acontecimento até ainda mais inverossímeis ajudam a
criar uma comédia visual mais potente. Assim, as reações das personagens, a
disposição delas pelo ambiente e seus movimentos se tornam espalhafatosas, além
de cômicas. A fotografia dos ambientes, apesar dos poucos detalhes e de certa
rigidez, como um desenho estático, em comparação à fluidez das personagens,
possui uma coloração amena, com tons pastéis. Ajudando a produzir uma sensação
de doçura como no filme anterior.
Talvez o longa se torne mais
emocional ao já conhecer as personagens, porém é com extrema vivacidade que
elas são apresentadas aqui. Tendo um foco mais em Alice – em contrapartida ao
filme de 2004 que tem um foco maior em Hana –, explorando sua adaptação à nova
escola. Logo, se inserindo dentro da cultura, nas histórias orais, nas fofocas,
como se esses discursos criassem uma zona de mistério e passado àquele lugar. A
lenda principal era a do aluno que sentava na cadeira, na qual, Alice se
encontrava. Diziam que ele morreu e seu espírito se encontrava ainda na sala.
As melhores sequências de comédia do longa são entre Alice e uma aluna, suposta
curandeira, da sala. Apesar delas não serem amigas, a relação das duas é muito
bem realizada, enquanto uma tem um toque total de estranheza, e a outra uma
leveza estabanada, porém as duas parecem se mover pela mesmo mote, a adaptação
a essa escola.
Veja bem, a forma com que as duas
protagonistas passam a ter seus encontros e desencontros é completamente
desencadeada por essas lendas escolares. Fazendo ressaltar como diversas das
lendas e mitos escolares se constroem em cima de entraves sociais. Hana sempre
parece estar à beira de um colapso de tristeza, ela é apresentada como uma
garota cheia de vida, mas que é completamente avulsa em como se relacionar com
os sujeitos, já Alice tem uma leveza maior, característica bem coerente a uma
bailarina como ela. É interessante como as conexões reais afastam os entraves
sociais à margem, não é que criam uma zona na qual a cultura escolar não
consegue atravessar, mas criam uma fortificação, um modo de suportar certas
coisas. Essa é umas das coisas mais poderosas que a união dessas personagens
parecem produzir nesta animação.
Como de praxe, Iwaii conduz o filme
sempre enquadramento seus personagens com muita compaixão, acompanhando-os de
músicas clássicas, que sempre surgem em bons momentos. Aliás, a música se torna
mais forte pela presença do balé de Alice. A sequência da noite estrelada, na
qual as duas amigas dançam, em câmera lenta, é comparável ao balé de Alice no
filme original. A dança das duas é movimento em direção a algo, aqui é de
fortificação de uma amizade.
Portanto, O Caso de Hana e Alice se
nomeia assim por conta de um mistério de uma lenda escolar. Cheio de comédia e
certa doçura narra as desventuras juvenis e extremamente cotidianas dessas
personagens cheias de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário