sexta-feira, 6 de abril de 2018

2015 – O Caso de Hana e Alice (Shunji Iwaii, Japão) **** (4.0)


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Era inevitável que Iwaii retornasse aos seus personagens mais singelos e divertidos. Essa animação em rotoscópia serve de prequel para o seu famoso filme Hana e Alice. Não sei dizer o quanto foi escolha do diretor utilizar a animação, mas se tornou a escolha mais viável pelo fato de já terem se passado 11 anos do longa na qual essa obra se fixa, os atores provavelmente já nem lembram mais os seus personagens fisicamente, além de ser uma história do passado delas. Narrando a histórias dessas duas personagens novamente, mas agora, para ser exato como as duas se conheceram.
            
Acerca da animação em rotoscópia, é inegável que ele estranhe os olhos acostumados a outros modos de animação como o 2D, ou 3D. Entretanto, pouco se percebe da possibilidade de fluidez que ela permite a toda e qualquer cena. Essa técnica é uma precursora da captura de movimento, pois transforma atores em animação. É certo que os ambientes carecem de detalhes, ou que os personagens parecem sem tantas particularidades também, mas existe uma força gestual em cada um deles que torna essa técnica de certo algo de interessante. Richard Linklater já a usou em dois de seus filmes, experimentando a fluidez e maleabilidade dos sonhos. Iwaii exprime esse movimento da amizade juvenil, os gestos e movimentos inesperados e carregados de vida.
            
O exagero comum ao anime, dos movimentos espalhafatosos e acontecimento até ainda mais inverossímeis ajudam a criar uma comédia visual mais potente. Assim, as reações das personagens, a disposição delas pelo ambiente e seus movimentos se tornam espalhafatosas, além de cômicas. A fotografia dos ambientes, apesar dos poucos detalhes e de certa rigidez, como um desenho estático, em comparação à fluidez das personagens, possui uma coloração amena, com tons pastéis. Ajudando a produzir uma sensação de doçura como no filme anterior.
            
Talvez o longa se torne mais emocional ao já conhecer as personagens, porém é com extrema vivacidade que elas são apresentadas aqui. Tendo um foco mais em Alice – em contrapartida ao filme de 2004 que tem um foco maior em Hana –, explorando sua adaptação à nova escola. Logo, se inserindo dentro da cultura, nas histórias orais, nas fofocas, como se esses discursos criassem uma zona de mistério e passado àquele lugar. A lenda principal era a do aluno que sentava na cadeira, na qual, Alice se encontrava. Diziam que ele morreu e seu espírito se encontrava ainda na sala. As melhores sequências de comédia do longa são entre Alice e uma aluna, suposta curandeira, da sala. Apesar delas não serem amigas, a relação das duas é muito bem realizada, enquanto uma tem um toque total de estranheza, e a outra uma leveza estabanada, porém as duas parecem se mover pela mesmo mote, a adaptação a essa escola.
            
Veja bem, a forma com que as duas protagonistas passam a ter seus encontros e desencontros é completamente desencadeada por essas lendas escolares. Fazendo ressaltar como diversas das lendas e mitos escolares se constroem em cima de entraves sociais. Hana sempre parece estar à beira de um colapso de tristeza, ela é apresentada como uma garota cheia de vida, mas que é completamente avulsa em como se relacionar com os sujeitos, já Alice tem uma leveza maior, característica bem coerente a uma bailarina como ela. É interessante como as conexões reais afastam os entraves sociais à margem, não é que criam uma zona na qual a cultura escolar não consegue atravessar, mas criam uma fortificação, um modo de suportar certas coisas. Essa é umas das coisas mais poderosas que a união dessas personagens parecem produzir nesta animação.
            
Como de praxe, Iwaii conduz o filme sempre enquadramento seus personagens com muita compaixão, acompanhando-os de músicas clássicas, que sempre surgem em bons momentos. Aliás, a música se torna mais forte pela presença do balé de Alice. A sequência da noite estrelada, na qual as duas amigas dançam, em câmera lenta, é comparável ao balé de Alice no filme original. A dança das duas é movimento em direção a algo, aqui é de fortificação de uma amizade. 
            
Portanto, O Caso de Hana e Alice se nomeia assim por conta de um mistério de uma lenda escolar. Cheio de comédia e certa doçura narra as desventuras juvenis e extremamente cotidianas dessas personagens cheias de vida.    

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