
Muito
se disse da exploração que Zahler propôs a esse filme ao modelo Grindhouse de
se fazer filmes, no qual, os fundamentos básicos de se fazer um bom cinema eram
deturpados para a exposição exacerbada de sexo ou violência. Aqui, não viola o
básico, produz um drama que tem como certa prioridade a violência, mas sempre
em favor de sua própria potência narrativa. Narrando a história de uma
avalanche de acontecimentos na vida de Bradley Thomas que o levam à prisão e
além.
A escolha de Vince Vaughn para
interpretar Bradley foi de uma eficiência impressionante. Seu porte físico,
alto e duro, quase como um poste que se arrasta pelo ambiente, cria uma
presença robusta para conduzir a narrativa sobre esse homem, que sempre está
para explodir. Quase sempre filmado de corpo inteiro, tudo parece pequeno ao
seu redor, ao mesmo tempo que o ambiente surge como um deserto e o protagonista
parece como um solitário vagando. Logo a primeira cena apresenta o personagem
tendo sua demissão, então, indo partir para o tráfico de drogas, até ser preso.
Mas esse não é um filme com um comentário sobre a dificuldade de ser alcançar o
“american dream”, se isso se apresenta é mais uma conotação, um subtendido
interpretado. O que de fato aparece aqui é um enredo sobre a violência incontrolável
desse mundo do crime. Pois, quando Bradley vai preso recebe um ultimato, ou ele
mata um prisioneiro especifico, ou sua esposa nascerá com um bebé desmembrado.
Narrativamente o longa se impõe com
um ritmo lento, queimando cada segundo com um olhar incômodo e seco sobre a
vida desse personagem. Não é à toa que o problema principal do filme só se
apresenta em sua metade, o que de hipótese alguma diminui a sua potência de
narração. Em sua primeira metade acompanha-se o cotidiano decadente de seu personagem
e a sequência na qual destrói um carro com as próprias mãos é exemplar para
exprimir esse ódio, essa raiva para com a própria situação. Aliás, os diálogos
decorrem da mesma forma, objetivos e escassos, seco e frios. Estão todos amordaçados
por suas condições existenciais. Sua segunda metade, foca-se nessa busca
incessante do protagonista de salvar seu bebê, que se ele fizer o que precisar
fazer para salvá-lo, também perderá a possibilidade de vê-lo para sempre.
A fotografia é quase sempre azulada
e como já disse, enquadra seu personagem na maioria das vezes de corpo inteiro,
com um posicionamento até baixo. O que torna sua fisicalidade, seu modo de ser
no mundo mais forte. Usando muito da contraluz para criar esse elemento de estranheza
incômoda da situação de Bradley. Muitas vezes optando em sua direção filmá-lo
de sua nuca, em que sua tatuagem de cruz se expande e se torna uma inscrição de
um código do seu próprio calvário. Tendo um apreço especial às sequências de
violência, ao estilo grindhouse, em sua dureza e rigidez, com poucos cortes e
com muito gore, a cada sequência desta o peso do protagonista reverbera sobre
os outros corpos. A maquiagem dessas cenas não é a das mais impressionante,
criando até um aspecto meio trash, próprio ao estilo no qual se conduz. Alguns
dos efeitos da violência podem ser considerados facilmente falsos, absurdos,
porém as sequências são conduzidas com um grau de realismo tão estranho e não
habitual, sem uma coreografia extremamente elaborada, muito menos uma montagem
veloz, que quando o gore se revela em seu exagero se conecta com um poder
visual a violência.
Em seu estado mais crescente, a
atuação de Vince vai se tornando cada vez mais impressionante e hipnotizante, e
a direção de Zahler cada vez mais fria e intensa. Muito mais que uma história
de prisão, muito mais que uma derrocada ao crime. É um intenso fluxo contínuo
de um corpo pronto para explodir e quanto mais tensionado, mais explode, mais
destrói, mas ele tem uma vontade que é possível de chamar de moral. Salvar sua
filha, além de se pensar como um homem justo. É difícil chamar Bradley de herói,
mas também é estranho chamá-lo de um homem mal. Zahler conseguiu criar um
personagem que age e age, num ambiente estéril, na qual não existe resolução de
fato. O fluxo de violência é interminável, tenha-se boas ou más intenções.
Enfim, Confronto no Pavilhão 99 é um
drama de ação, frio e estranho, usando diversos elementos do grindhouse para
exprimir sua violência de maneira indigesta. Com uma atuação estupenda de Vince
Vaughn, talvez a melhor de sua carreira e condução impressionante de Craigh
Zahler, sendo esse apenas seu segundo filme e que venham mais como esse.
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