quarta-feira, 4 de abril de 2018

2017 – Confronto no Pavilhão 99 (S. Craig Zahler, EUA) **** (4.0)


 photo BrawlinCellBlock99_10_zpszwvoip6c.jpg

Muito se disse da exploração que Zahler propôs a esse filme ao modelo Grindhouse de se fazer filmes, no qual, os fundamentos básicos de se fazer um bom cinema eram deturpados para a exposição exacerbada de sexo ou violência. Aqui, não viola o básico, produz um drama que tem como certa prioridade a violência, mas sempre em favor de sua própria potência narrativa. Narrando a história de uma avalanche de acontecimentos na vida de Bradley Thomas que o levam à prisão e além.
            
A escolha de Vince Vaughn para interpretar Bradley foi de uma eficiência impressionante. Seu porte físico, alto e duro, quase como um poste que se arrasta pelo ambiente, cria uma presença robusta para conduzir a narrativa sobre esse homem, que sempre está para explodir. Quase sempre filmado de corpo inteiro, tudo parece pequeno ao seu redor, ao mesmo tempo que o ambiente surge como um deserto e o protagonista parece como um solitário vagando. Logo a primeira cena apresenta o personagem tendo sua demissão, então, indo partir para o tráfico de drogas, até ser preso. Mas esse não é um filme com um comentário sobre a dificuldade de ser alcançar o “american dream”, se isso se apresenta é mais uma conotação, um subtendido interpretado. O que de fato aparece aqui é um enredo sobre a violência incontrolável desse mundo do crime. Pois, quando Bradley vai preso recebe um ultimato, ou ele mata um prisioneiro especifico, ou sua esposa nascerá com um bebé desmembrado.
            
Narrativamente o longa se impõe com um ritmo lento, queimando cada segundo com um olhar incômodo e seco sobre a vida desse personagem. Não é à toa que o problema principal do filme só se apresenta em sua metade, o que de hipótese alguma diminui a sua potência de narração. Em sua primeira metade acompanha-se o cotidiano decadente de seu personagem e a sequência na qual destrói um carro com as próprias mãos é exemplar para exprimir esse ódio, essa raiva para com a própria situação. Aliás, os diálogos decorrem da mesma forma, objetivos e escassos, seco e frios. Estão todos amordaçados por suas condições existenciais. Sua segunda metade, foca-se nessa busca incessante do protagonista de salvar seu bebê, que se ele fizer o que precisar fazer para salvá-lo, também perderá a possibilidade de vê-lo para sempre.
            
A fotografia é quase sempre azulada e como já disse, enquadra seu personagem na maioria das vezes de corpo inteiro, com um posicionamento até baixo. O que torna sua fisicalidade, seu modo de ser no mundo mais forte. Usando muito da contraluz para criar esse elemento de estranheza incômoda da situação de Bradley. Muitas vezes optando em sua direção filmá-lo de sua nuca, em que sua tatuagem de cruz se expande e se torna uma inscrição de um código do seu próprio calvário. Tendo um apreço especial às sequências de violência, ao estilo grindhouse, em sua dureza e rigidez, com poucos cortes e com muito gore, a cada sequência desta o peso do protagonista reverbera sobre os outros corpos. A maquiagem dessas cenas não é a das mais impressionante, criando até um aspecto meio trash, próprio ao estilo no qual se conduz. Alguns dos efeitos da violência podem ser considerados facilmente falsos, absurdos, porém as sequências são conduzidas com um grau de realismo tão estranho e não habitual, sem uma coreografia extremamente elaborada, muito menos uma montagem veloz, que quando o gore se revela em seu exagero se conecta com um poder visual a violência.
            
Em seu estado mais crescente, a atuação de Vince vai se tornando cada vez mais impressionante e hipnotizante, e a direção de Zahler cada vez mais fria e intensa. Muito mais que uma história de prisão, muito mais que uma derrocada ao crime. É um intenso fluxo contínuo de um corpo pronto para explodir e quanto mais tensionado, mais explode, mais destrói, mas ele tem uma vontade que é possível de chamar de moral. Salvar sua filha, além de se pensar como um homem justo. É difícil chamar Bradley de herói, mas também é estranho chamá-lo de um homem mal. Zahler conseguiu criar um personagem que age e age, num ambiente estéril, na qual não existe resolução de fato. O fluxo de violência é interminável, tenha-se boas ou más intenções.
            
Enfim, Confronto no Pavilhão 99 é um drama de ação, frio e estranho, usando diversos elementos do grindhouse para exprimir sua violência de maneira indigesta. Com uma atuação estupenda de Vince Vaughn, talvez a melhor de sua carreira e condução impressionante de Craigh Zahler, sendo esse apenas seu segundo filme e que venham mais como esse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário