Ghost in the Shell, como é
mais conhecido, é uma belíssima animação japonesa que articula o já difundido
estilo cyberpunk com o mistério e melancolia inerente ao Noir. Construindo,
assim, um olhar extremamente cinematográfico, tangenciado diversos temas
filosóficos sobre as questões humanas, não deixando a desejar em seu potencial
de ação também. Dessa forma, narra a história de Major, num futuro cinzento,
onde a tecnologia e o homem entram numa zona de indiscernibilidade, que procura
impedir que um poderoso hacker domine todo o sistema.
Visualmente a direção de Oshii surpreende, existe um
afinco muito grande na produção de cenas de ação. A maneira que move o
enquadramento e que demonstra o impacto de qualquer ataque é muito forte, seus personagens
também apresentam uma expressão gestual muito coerente, de certa forma, parecem
aprisionados neste mundo cinzento. Mas não só aí demonstra total controle de
sua narratividade, mas nas cenas de suspense também. A própria abertura do
filme, acompanhada de uma intensa trilha sonora de coro, utilizando de sombras
e do silêncio dos personagens para intensificar a atmosfera. Em relação aos
cenários, existe uma mescla ideal do tecnológico e do comum (pelo menos para os
anos 80/90), as ruas estreitas e engarrafadas, os prédios enormes, os diversos
anúncios nas paredes, um verdadeiro enclausuramento com o excesso de informação
e o mínimo de espaço.
Major
faz parte de um setor mais restrito da polícia de Tóquio, ela é um androide,
seu sistema nervoso ainda é humano, porém todo o seu corpo é uma máquina. Sua
inexpressividade é justificável, apesar de tornar alguns dos diálogos dos
filmes carregados de frieza. A dificuldade de saber quem é totalmente humano e
quem não é, tornam a busca ao que é o ser humano ainda mais inevitável do que
nos tempos de hoje. Batou é um dos poucos personagens desenvolvidos, ao lado da
protagonista, sua participação como secundário e principal ajudante da
investigadora é como a de um bom amigo, compartilhando dos questionamentos da
mesma. Uma das discussões mais interessantes destes dois personagens é sobre a
Major apenas se identificar como humana, pelo fato de a tratarem como uma
humana. Seu principal questionamento se encontra nas possibilidades de sua
existência, será que ela já morreu e só voltou a se ativar por ter o cérebro
conectado a um corpo sintético? Será que foi criada para ser daquela maneira,
ou ainda, que o próprio corpo sintético conseguiu produzir consciência, uma
nova consciência? Sendo assim, o que é humano?
Esta
sensação de decadência humana lembra e muito com as temáticas do Noir. Em seus
momentos finais, demonstra seu espaço de maneira extremamente simbólica durante
as cenas de ação, o último momento que existe ação, quando o hacker controla um
robô militar e tenta matar Major, o local contém uma inscrição de uma árvore na
parede que é destruída pelas balas. Seria a própria genealogia dos seres
humanos que estava se perdendo por conta de sua total mistura com a tecnologia?
A linhagem, a descendência, o milagre do nascimento humano, torna-se vazio
quando o sujeito pode ser criado artificialmente.
Portanto,
O Fantasma do Amanhã (ressaltando que seu título original apreende de melhor
maneira as nuances de todo o enredo) é um trabalho muito bem realizado, com um
roteiro consistente, apesar de simples e com uma elaboração técnica muito
avançada para o universo das animações. Construindo uma estética própria que influenciou
imensamente todo o cyberpunk, sendo diretamente a maior influência de Matrix.
Não apenas nas letras verdes que surgem na tela escura, mas essencialmente, na
luta para entender o que é ser humano.

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