quinta-feira, 30 de novembro de 2017

2009 – Entes Queridos (Sean Byrne, Austrália) ***1/2 (3.5)

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O filme de estreia de Sean Byrne é uma história que consegue compor muito bem o terror com a comédia, trazendo até mesmo certa sátira aos filmes de colegial americano. Sendo extremamente violento, brinca com a agonia do espectador, trazendo uma longa sequência numa mesa de jantar que é mais intensa que qualquer longa de gore recente e não porque é mais violento, ou mais bem feito, mas sim, pois todo o contingente da situação a tornam bizarra. Narrando a história de Brent que, ao recusar o pedido de ir ao baile de Lola, sua colega de sala, acaba sendo sequestrado e torturado.
            
Existe algo extremamente irônico ao escolher um baile de formatura para esse filme, é como se propusesse um retorno aos filmes de terror dos anos 80 e que voltasse a satirizar o American Way da juventude. Neste cenário, a necessidade de um ideal romântico, proposta pelo Baile, na qual vive a personagem de Lola, completamente infantilizada de forma perturbadora. Deve-se atentar que ser infantil não é o mesmo que ingênuo, ela é maliciosa, não se sabe ao certo sua relação com seu pai, mas existe um desconforto incestuoso no qual fazem com que ele apenas siga os comandos da mesma. Enquanto isso, Brent é um jovem que vive por um processo de isolamento e tristeza, já que seu pai havia morrido recentemente num acidente de carro. Ele ainda tem certas características do estereótipo dos personagens que se servem de ideal masculino. Sua recusa do pedido de nada tem a ver com um desprezo à Lola, até porque ninguém a conhece de fato, mas sim porque tem uma namorada. Existem outros personagens que os rodeiam, seu amigo Jaime e sua companheira do baile, Mia, são mais um fato cômico que se estabelece na estética do longa. Em ótimas atuações de todos os personagens, que apesar, de início, parecerem apenas meros devaneios do filme, com o passar da narrativa conseguem ser pontos de expansão da problemática central do longa, que é o amor adolescente perturbador de Lola.
            
Em relação a forma com qual propõe-se a assustar ao público, o cenário de uma sala de jantar comum, mas com figuras bizarras sentadas na mesa remetem ao Massacre da Serra Elétrica. Lola com seu comportamento maníaco, seu pai, como um mero servo e por fim, uma outra figura, que parecia lobotomizada por uma abertura no meio da testa. Nestas sequências, Byrne não deixa o espectador fugir de nada, presencia-se toda dor que é infligida ao jovem que aparentemente não tem o medo da morte e por isso tenta escapar ao máximo, não se rende. Talvez, após o filme, o espectador não fique com medo de que algo como isso aconteça consigo, por seu tom quase absurdo, porém é de se impressionar como o diretor faz surgir de forma cada vez mais intricada a relação com que todos os personagens do enredo têm e principalmente da amplitude dessa violência que a garota está fazendo. Vale ressaltar, por fim, um bom uso da trilha sonora, não necessariamente marcante, mas extremamente funcional e que ajudam a produzir a ambientação de colégio americano, ainda mais se passando na Austrália.
            
Tendo isso em vista, este filme de terror pode não ser assustador, mas com certeza é agoniante e ao mesmo tempo divertido, pelas suas potencialidades absurdas e até certo ponto de sátira. Com bons personagens e com uma suposta antagonista marcante, a estreia de Sean Byrne é de certo promissora. 

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