As comparações à Cães de Aluguel não são tão justas, o
filme do Tarantino é muito mais intenso, bem narrado e possivelmente até mais
jovial que esta estranha tentativa de Wheatley em produzir um filme em um
ambiente só. Free Fire é sobre uma negociação de armas que dá errado, por conta
de idiotices quaisquer, perdurando em seus noventa minutos num tiroteio que,
apesar de produzir momentos realmente engraçados, cansa o espectador pela falta
de inventividade.
Sim, o grande problema do filme se encontra na sua falta
de inventividade. A relação dos personagens com a locação parece mal
aproveitada, pois a maneira com qual o diretor usa de seu ambiente é
convencional demais. O problema não é ser convencional, mas o convencional não
sustenta esse tipo de narrativa num único ambiente. Por mais que o emaranhado
de personagens seja divertido. Sua melhor arma são seus personagens, por mais
que não sejam tão bem explorados, são figuras divertidas. Com ajuda é claro que
de fantásticos atores, Cillian Murphy, com seu silêncio em maior parte, parece
até construir um personagem ético, pelo menos é isso que o espectador almeja
nele, por mais que saiba que todos que estão no local sejam criminosos; Armie
Hammer surpreende, interpretando um personagem com certo carisma, Brie Larson
aparece de forma razoável, apesar de sua personagem ter certa força por se
destacar sendo a única mulher no meio dessa armadilha cheia de testosterona,
por fim, vale ressaltar, também, o trabalho caricato de Sharlto Copley, um ator
que trabalha sempre com o seu corpo por completo, aqui constrói uma caricatura
que não surge como falsa, apesar de ser incômoda.
A comédia é outro ponto que consegue fazer o espectador
perseverar no longa, não só a comédia nos diálogos velozes, cheios de sarcasmo,
mas principalmente na maneira que alguns momentos de ação conduzidos, como numa
comédia de humor negro. É como o ditado surgido erroneamente a partir da Lei de
Murphy, “se algo pode dar errado, vai dar errado”, é impressionante como tudo
dá errado nesse filme. Talvez o exagero em sequência canse, assim como a
própria duração do longa como citado. Muitos dos momentos são gastos com
sequência de ação que parecem apenas estar ali para passar tempo, sem muito
objetivo, talvez tenha um intuito mesmo de criar caos. Mas é um caos organizado
demais, sincronizado demais em suas coreografias. Parece a ver pouco espaço
para a espontaneidade (sendo vista apenas na composição de seus personagens e
não em suas ações).
Ben Wheatley produziu obras que passeiam pelos gêneros do
suspense, ação, drama e comédia, sempre um atravessando o outro. Free Fire é o
seu filme menos interessante, parecendo como qualquer outro, sem força, apesar
de ainda divertir e trazer um belo trabalho dos atores.
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