
Hong Sang-Soo é um diretor
minimalista, cada filme seu parece um déjà vu e até mesmo dentro de seus filmes
parecem existir momentos de memória impregnada, não da nossa memória, mas a dos
personagens, seus personagens parecem mais vivos que os habituais corpos que
habitam a tela. Conto de Cinema é um filme essencialmente sobre cinema, mais precisamente
sobre sua forma de expressão do real.
Narrando, a princípio, a história de Sang-won, um jovem
extremamente descrente com o seu futuro e com um estado emocional muito frágil.
Ao encontrar com Young-sil, uma antiga colega da escola que agora trabalha numa
ótica, o curso de sua vida parece mudar. Como de costume, seus personagens são
muito ligados ao passado, por isso tantos reencontros. No decorrer do filme
percebe-se que o personagem tem muitos problemas com o passado, e usando de
acontecimentos pueris começa a revelar a dificuldade de expressão de Sang-won.
O diretor também optou pelo uso de voice-overs constantes do personagem
principal, algo não muito usual e que lembrou muito o uso do recurso de
Bresson, dando uma ênfase ao acontecimento e a consciência de seus personagens,
não de um ou de outro, mas nos dois em conjunto.
A estrutura narrativa dos longas de Hong Sang-Soo pouco
tem a ver com linearidade e muito menos de uma lógica realista, por isso, essa
história se encerra e se tem o início do enredo de Doong-Soo, que acabou de
assistir ao mesmo trecho de filme que nós espectadores. Ele fica fissurado pelo
seu enredo e ainda mais pela sua atriz, portanto, ousa afirmar que aquela
história contada era a história de sua vida. Dessa forma, o longa nos mostra
uma imagem cristal em que existe um filme dentro de um filme, fazendo-se
necessário para contar uma vida por meio do cinema, quais as conexões que um
filme pode ter com o real? Como Roger Ebert afirmava de maneira veemente
“máquina de empatia”, será que era mesmo a sua história ou poderia ser a
história de vários, ou poderia ser a história de ninguém, pois se trata mais de
sentimentos reais que ações reais.
Vale apontar também que nesse filme o diretor implementou
sua estética, impondo mais movimento à câmera e usando zooms inesperado para
criar elipses narrativa, e usando cada vez mais da trilha sonora para dar tom
ao seu filme, provavelmente Conto de Cinema é o filme em que ele estabeleceu
seu estilo visual. Ainda mais moderno que antes, existem momentos de devaneios
em que a câmera aponta para o que o personagem olha e quando ela volta-se
novamente para seu personagem, ele está indo embora, no fundo do quadro. Como
se houvesse um consciência de câmera que lutasse com a consciência do próprio
personagem.
Portanto, pode não ser o seu melhor enredo já que o
desenvolvimento da história parece ficar estagnado num sofrimento estranho, mas
o considero um de seus mais importantes trabalhos. Um trabalho decisivo para se
encontrar como artista e também de uma forma fantástica de explorar o poder
sobre o real do cinema.
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