terça-feira, 4 de abril de 2017

2005 – Conto de Cinema (Hong Sang-Soo, Coreia Do Sul) ****1/2 (4.5)






Hong Sang-Soo é um diretor minimalista, cada filme seu parece um déjà vu e até mesmo dentro de seus filmes parecem existir momentos de memória impregnada, não da nossa memória, mas a dos personagens, seus personagens parecem mais vivos que os habituais corpos que habitam a tela. Conto de Cinema é um filme essencialmente sobre cinema, mais precisamente sobre sua forma de expressão do real.
            
Narrando, a princípio, a história de Sang-won, um jovem extremamente descrente com o seu futuro e com um estado emocional muito frágil. Ao encontrar com Young-sil, uma antiga colega da escola que agora trabalha numa ótica, o curso de sua vida parece mudar. Como de costume, seus personagens são muito ligados ao passado, por isso tantos reencontros. No decorrer do filme percebe-se que o personagem tem muitos problemas com o passado, e usando de acontecimentos pueris começa a revelar a dificuldade de expressão de Sang-won. O diretor também optou pelo uso de voice-overs constantes do personagem principal, algo não muito usual e que lembrou muito o uso do recurso de Bresson, dando uma ênfase ao acontecimento e a consciência de seus personagens, não de um ou de outro, mas nos dois em conjunto.
            
A estrutura narrativa dos longas de Hong Sang-Soo pouco tem a ver com linearidade e muito menos de uma lógica realista, por isso, essa história se encerra e se tem o início do enredo de Doong-Soo, que acabou de assistir ao mesmo trecho de filme que nós espectadores. Ele fica fissurado pelo seu enredo e ainda mais pela sua atriz, portanto, ousa afirmar que aquela história contada era a história de sua vida. Dessa forma, o longa nos mostra uma imagem cristal em que existe um filme dentro de um filme, fazendo-se necessário para contar uma vida por meio do cinema, quais as conexões que um filme pode ter com o real? Como Roger Ebert afirmava de maneira veemente “máquina de empatia”, será que era mesmo a sua história ou poderia ser a história de vários, ou poderia ser a história de ninguém, pois se trata mais de sentimentos reais que ações reais.
            
Vale apontar também que nesse filme o diretor implementou sua estética, impondo mais movimento à câmera e usando zooms inesperado para criar elipses narrativa, e usando cada vez mais da trilha sonora para dar tom ao seu filme, provavelmente Conto de Cinema é o filme em que ele estabeleceu seu estilo visual. Ainda mais moderno que antes, existem momentos de devaneios em que a câmera aponta para o que o personagem olha e quando ela volta-se novamente para seu personagem, ele está indo embora, no fundo do quadro. Como se houvesse um consciência de câmera que lutasse com a consciência do próprio personagem.  

 Portanto, pode não ser o seu melhor enredo já que o desenvolvimento da história parece ficar estagnado num sofrimento estranho, mas o considero um de seus mais importantes trabalhos. Um trabalho decisivo para se encontrar como artista e também de uma forma fantástica de explorar o poder sobre o real do cinema.

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