terça-feira, 18 de abril de 2017

2016 – Moonlight (Barry Jenkins, EUA) ***** (5)

Imagem relacionada

O segundo filme do diretor independente, Barry Jenkins, é singular. Com uma câmera semi-subjetiva, entramos no universo de um homem, da sua infância até sua vida adulta, de uma forma extremamente sensível e emocionante, nos guiando pelas cores, sensações e texturas da imagem. Contando a história de Chiron, uma criança que desde pequeno é perseguido pela sua possível homossexualidade, e que ainda precisa lidar com sua mãe viciada em Crack.

Divido em três partes, que se iniciam com um fundo preto e uma pequena luz no centro superior do quadro, possivelmente indicando uma relação luminosa com a cor. Essa estrutura em tríptico impõe elipses geniosas para o enredo e contraem o tempo, aumentando a potência da passagem dele. A parte I se intitula Little, a parte II Chiron e a parte III Black, dessa forma as três partes se entrelaçam numa busca de identidade do personagem que quando pequeno era chamado de Little, quando jovem exige ser chamado por seu real nome e quando adulto assume o nome de Black. Quem é você, Chiron? É uma pergunta repetida diversas vezes no filme, não é à toa que na primeira parte, Chiron, ao construir um laço paternal com o traficante Juan, realizado de maneira singela por Mahershala Ali, constrói um diálogo que dá nome ao título do filme, numa frase poética, “Todos os meninos negros parecem azuis sob a luz do luar”. Construindo aí, uma relação poderosa com azul no filme, seja em sua conexão com o mar, ou mesmo na escuridão quando a fotografia saturada e com relevo faz com que a pele de seu personagem fique azulada.

Não só aí o diretor produz sentimentos e sensações com as cores, na relação que Chiron tem com a mãe, em que o quarto dela emite uma cor avermelhada e estranha ou no banheiro, no momento que ele mais olha para si mesmo a cor azul está em todo o ambiente. O mar que ganha talvez a entonação maior no filme, volta em momento cruciais, principalmente com relação ao Kevin, seu único amigo de infância. Um exemplo interessante é quando vão se reencontrar e Chiron dirige seu carro na estrada, durante a transição da imagem, o mar com crianças brincando entra numa fusão em que o carro do protagonista, que viaja pelo mar para sua infância, como num sonho. Porém, a cena mais poderosa de todo filme é a que Chiron está na praia e tem sua primeira relação com o sexo, a primeira vez que descobre seu próprio corpo, em que a composição dos elementos constrói uma áurea de conexão ao natural perfeita, seja o vento da brisa forte, ou fogo do baseado, a água do mar e a areia, que se conecta com o próprio sêmen do personagem.

Sua estética é muito subjetiva, usando quase sempre da câmera de mão, criando um aspecto mais visceral ao enredo, enquadramentos de rostos muito próximos, longos planos de olhares e silêncios. Mostrando assim, suas referências em Wong Kar Wai, principalmente na cena em que Chiron se reencontra com Kevin numa lanchonete e a música Hello Stranger preenche o silêncio de seus personagens, construindo um ambiente de puro afeto que vai além de qualquer diálogo. Diga-se de passagem, Jenkins é uma prova que a prolixidade é avessa ao cinema, ela cansa a imagem e os silêncios são como espaços visuais dos sentimentos de seus personagens, dão um ritmo diferenciado ao filme que promove uma angústia, em alguns momentos, até, nos aprisiona no puro afeto de olhar para as imagens e sentir.

Um dos filmes mais sensíveis dos últimos anos, que explora as superfícies da existência de um sujeito que se sente preso em si mesmo, e que mal sabe quem é. Concentrando toda sua potência nas imagens, num roteiro sútil, com atuações magistrais e toda uma condução, até mesmo nas músicas, que promove uma real luta pela existência de si, em busca de uma identidade. 

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