
Primeiro filme lançado
realmente em 2017 que vejo é o vencedor do prêmio do Júri do Festival de
Sundance (festival de cinema independente dos EUA). Dirigido pelo ator Macon
Blair, já trazendo a referência do diretor Jeremy Saulnier no seu estilo
grotesco e cômico, apesar do lado da comédia do filme lembrar mais a ironia e o
senso do homem comum, no caso do filme da mulher comum, muito retratado na
extensa filmografia dos irmãos Coen. A história de Ruth, uma mulher vivendo uma
crise existencial por conta da efemeridade das coisas, que acaba por ser
furtada. Tentando buscar os seus itens roubados, ao lado de seu estranho
vizinho, Tony, entram numa confusão violenta.
O longa introduz a personagem como uma pessoa
extremamente introspectiva, que parece estar vivendo uma onda de azar e ela
pouco faz para mudar tal fluxo que sua vida chegou. Usando de elipses, o
diretor reconstrói o cotidiano da personagem. Inclusive seu trabalho como
enfermeira acaba por ser extremamente desgastante, por sempre estar em contato
com a morte e ainda assim, apesar de todo o cuidado com os pacientes, não tem
realmente um afeto para com os outros. Mas quando é furtada, em que levam seu
computador (o atual objeto material da subjetividade humana) e os talheres de
prata de sua querida vó, ela entra em um estado de confusão. Não à toa que se
assusta com a imensidão do universo e percebe que um dia todas as pessoas se
vão, mas alguns objetos ficam. A situação não só a fez buscar o que era de sua
vó, mas também sua vida, pois começou a mudar sua maneira de agir sobre as
situações, passando de passiva para ativa.
Seu vizinho, personagem completamente caricato, começa a
ajudá-la a encontrar o seu computador (que pode ser rastreado por um app),
porém eles caminham por uma espiral, indo de mãos em mãos. Os momentos de real
tensão se constroem para o fim do filme, que com sua comicidade violenta e gore
exploram uma comédia de erros próxima de Fargo. Sem contar certas brincadeiras
visuais que o diretor compõe com ajuda da junção da trilha sonora com a imagem,
seja para emitir uma ideia contrária àquela em tela ou para torna-la ainda mais
atrativa. A atuação de Lynskey é sutil e perfeita para essa comédia absurda,
sem exageros, sempre contida, já Elijah Wood só precisou ser o personagem para
nos divertir, já que ele parece ser de outro mundo.
Portanto, Macon Blair construí um bom filme, uma
caricatura da fuga da angústia de um sujeito e com um pé no seu mentor
Saulnier. Talvez não fosse o melhor filme do Festival de Sundance, já que ele
acaba por ser simples demais, sem grande impacto, mas ainda é extremamente
divertido e bem conduzido.
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