
O que é a real para uma pessoa, o que é a verdade para uma pessoa? Christine perpassa por temas como esse e o desligamento com o real do jornalismo sensacionalista foi crucial para se entender a história dessa complexa personagem. Para quem não sabe, Christine foi uma repórter de um pequeno jornal estadunidense, que cometeu suicídio ao vivo.
A princípio deve-se falar da atuação magistral de Receba
Hall, não só incorporando os trejeitos da repórter, mas expressando uma
intensidade irritante à personagem. Ela vive com a mãe, que parece não ligar
muito para nada, completamente diferente da sua filha, que sente uma
necessidade de se diferenciar dos colegas, que só pensam ou em si mesmo, ou em
manufaturar histórias, sejam elas sobre a cidade, ou não, sejam elas reais ou
não. Também, percebe-se uma certa relutância com a mudança, ao não aceitar usar
vídeos digitais, apenas os rolos dos filmes. Sua rejeição com a mudança era
clara, não só em relação a isso, mas no seu próprio modo de vida.
Seus atos impulsivos só mostram seu inconformismo com
tudo, não que ela esteja errada em lutar pelo que acredita, mas ela toma
decisões completamente absurdas, como bater na porta de um grande produtor, no
meio da madrugada, apenas por não ter sido escolhida para um outro jornal.
Enquanto, para algumas outras coisas que deseja, ele se reprime, entrando em
uma crise existencial, seja pela dor física, somatizada, ou ainda, pelo foco na
produção de histórias de outros. Christine nunca parou para realmente construir
sua história. E quando percebeu que até mesmo as histórias jornalísticas não
conseguiam mais ser reais, por conta do absurdo desejo mercadológico, ela mesmo
se desprendeu do real e passou a agir de outra forma.
Tecnicamente é um filme muito limpo, usando de cores
amareladas que remetem a um passado nostálgico, ao passo que enquadra as tvs,
que surgem como prisões no rosto da personagem, numa imagem cinza cheio de
ruídos. Apesar de um roteiro muito potente, a direção não é tão elaborada, o
que torna o filme um pouco cansativo, talvez a própria intensidade da
personagem canse o espectador, assim como cansa todos à sua volta. Ainda assim,
é de se assustar como ninguém percebeu o que estava chegando, como ninguém
parecia se importar para o que ela tinha a dizer.
Quando o momento final chega, os personagens ao redor
dela ganham a intensidade que Christine já tinha, porém inteligentemente o
filme se encerra com uma personagem espairecendo, ao cantar uma canção.
Christine não tinha válvula de escape, realmente estava presa num mundo
televiso, cheio de buracos ruidosos.
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