sexta-feira, 21 de abril de 2017

2016 – Christine (Antonio Campos, EUA) **** (4)


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O que é a real para uma pessoa, o que é a verdade para uma pessoa? Christine perpassa por temas como esse e o desligamento com o real do jornalismo sensacionalista foi crucial para se entender a história dessa complexa personagem. Para quem não sabe, Christine foi uma repórter de um pequeno jornal estadunidense, que cometeu suicídio ao vivo.
            
A princípio deve-se falar da atuação magistral de Receba Hall, não só incorporando os trejeitos da repórter, mas expressando uma intensidade irritante à personagem. Ela vive com a mãe, que parece não ligar muito para nada, completamente diferente da sua filha, que sente uma necessidade de se diferenciar dos colegas, que só pensam ou em si mesmo, ou em manufaturar histórias, sejam elas sobre a cidade, ou não, sejam elas reais ou não. Também, percebe-se uma certa relutância com a mudança, ao não aceitar usar vídeos digitais, apenas os rolos dos filmes. Sua rejeição com a mudança era clara, não só em relação a isso, mas no seu próprio modo de vida.
            
Seus atos impulsivos só mostram seu inconformismo com tudo, não que ela esteja errada em lutar pelo que acredita, mas ela toma decisões completamente absurdas, como bater na porta de um grande produtor, no meio da madrugada, apenas por não ter sido escolhida para um outro jornal. Enquanto, para algumas outras coisas que deseja, ele se reprime, entrando em uma crise existencial, seja pela dor física, somatizada, ou ainda, pelo foco na produção de histórias de outros. Christine nunca parou para realmente construir sua história. E quando percebeu que até mesmo as histórias jornalísticas não conseguiam mais ser reais, por conta do absurdo desejo mercadológico, ela mesmo se desprendeu do real e passou a agir de outra forma.
            
Tecnicamente é um filme muito limpo, usando de cores amareladas que remetem a um passado nostálgico, ao passo que enquadra as tvs, que surgem como prisões no rosto da personagem, numa imagem cinza cheio de ruídos. Apesar de um roteiro muito potente, a direção não é tão elaborada, o que torna o filme um pouco cansativo, talvez a própria intensidade da personagem canse o espectador, assim como cansa todos à sua volta. Ainda assim, é de se assustar como ninguém percebeu o que estava chegando, como ninguém parecia se importar para o que ela tinha a dizer.

            
Quando o momento final chega, os personagens ao redor dela ganham a intensidade que Christine já tinha, porém inteligentemente o filme se encerra com uma personagem espairecendo, ao cantar uma canção. Christine não tinha válvula de escape, realmente estava presa num mundo televiso, cheio de buracos ruidosos.

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