
Explorando uma narrativa com
um quê de Hitchcock, mas sem perder sua real estética, Truffaut mostra mais uma
vez seu poder em contar histórias intensas, por mais que use e abuse do
inverossímil, mas o que isso importa? É um filme, não foi feito para ser um
espelho, do que serviria a montagem, então? O diretor francês sabe muito bem
disso, por isso brinca com situações estranhas, mas poderosas visualmente.
(Algo que já havia feito no superior A Noiva Estava de Preto).
A história é sobre um homem que espera pela chegada de
sua amada no porto da Ilha chamada, curiosamente, de Reunion. A mulher que ele
espera, ainda não o conhece, passou tempos e tempos trocando apenas cartas com
ela, será que iria reconhece-la, mas não foi preciso, ela o reconheceu. E as
pressas se casaram, para aos poucos descobrir que essa mulher de fato não era
sua esposa. Truffaut vai invocando diversas pistas visualmente espetaculares
como a aliança que não cabe no dedo, para que o mistério e suspense já comece a
dominar o enredo.
É de se impressionar o efeito que isso causa no
protagonista da história, caracterizado com precisão pelo Jean-Paul Belmondo,
um homem completamente apaixonado por uma mulher, mas ainda assim apaixonado
também por uma estranha. Apesar de enraivecido, ela parece o afetar de uma
maneira muito maior que o esperado. Difícil saber quem realmente ele ama, pois
quando descobre o real nome da estranha, sempre o confunde com o da amada
ideal, ele enxerga as duas mulheres, ou nenhuma delas, talvez fosse um homem
apaixonado pelo amor.
Já a mulher, encenada por Catherine Deneuve, é sensual e
calculista, uma femme fatale que parece apaixonada por dinheiro, mas aos poucos
aparenta se afeiçoar de verdade pelo personagem de Belmondo. Compondo o casal
numa ótima atuação em meio a uma fotografia estupenda. Apesar de enfraquecer um
pouco no fim, o filme consegue ter um ritmo muito bom, muito intenso e
misterioso, com planos belíssimos como o de Belmondo no carro enquanto
escutamos um voice-over sobre o desaparecimento de sua mulher ou ainda quando o
detetive recorta a foto de casamento dos dois, cortando exatamente no corpo do
Belmondo.
Me impressiona como o Truffaut é apaixonado por cinema e
isso é expresso em seus filmes, trazendo uma narrativa extremamente
cinematográfica, vale apontar uma cena pouco antes do fim em que vemos um
quadrinho da branca de neve no jornal, nada é dito, mas o tom da cena se torna
tão poderoso e com tão pouco. Por mais que não seja um filme que impressione
tanto quanto os outros do diretor, ainda é um filme com uma linguagem marcante.
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