sábado, 1 de abril de 2017

1969 – A Sereia do Mississipi (François Truffaut, França) **** (4)

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Explorando uma narrativa com um quê de Hitchcock, mas sem perder sua real estética, Truffaut mostra mais uma vez seu poder em contar histórias intensas, por mais que use e abuse do inverossímil, mas o que isso importa? É um filme, não foi feito para ser um espelho, do que serviria a montagem, então? O diretor francês sabe muito bem disso, por isso brinca com situações estranhas, mas poderosas visualmente. (Algo que já havia feito no superior A Noiva Estava de Preto).
            
A história é sobre um homem que espera pela chegada de sua amada no porto da Ilha chamada, curiosamente, de Reunion. A mulher que ele espera, ainda não o conhece, passou tempos e tempos trocando apenas cartas com ela, será que iria reconhece-la, mas não foi preciso, ela o reconheceu. E as pressas se casaram, para aos poucos descobrir que essa mulher de fato não era sua esposa. Truffaut vai invocando diversas pistas visualmente espetaculares como a aliança que não cabe no dedo, para que o mistério e suspense já comece a dominar o enredo.
            
É de se impressionar o efeito que isso causa no protagonista da história, caracterizado com precisão pelo Jean-Paul Belmondo, um homem completamente apaixonado por uma mulher, mas ainda assim apaixonado também por uma estranha. Apesar de enraivecido, ela parece o afetar de uma maneira muito maior que o esperado. Difícil saber quem realmente ele ama, pois quando descobre o real nome da estranha, sempre o confunde com o da amada ideal, ele enxerga as duas mulheres, ou nenhuma delas, talvez fosse um homem apaixonado pelo amor.
            
Já a mulher, encenada por Catherine Deneuve, é sensual e calculista, uma femme fatale que parece apaixonada por dinheiro, mas aos poucos aparenta se afeiçoar de verdade pelo personagem de Belmondo. Compondo o casal numa ótima atuação em meio a uma fotografia estupenda. Apesar de enfraquecer um pouco no fim, o filme consegue ter um ritmo muito bom, muito intenso e misterioso, com planos belíssimos como o de Belmondo no carro enquanto escutamos um voice-over sobre o desaparecimento de sua mulher ou ainda quando o detetive recorta a foto de casamento dos dois, cortando exatamente no corpo do Belmondo.

            
Me impressiona como o Truffaut é apaixonado por cinema e isso é expresso em seus filmes, trazendo uma narrativa extremamente cinematográfica, vale apontar uma cena pouco antes do fim em que vemos um quadrinho da branca de neve no jornal, nada é dito, mas o tom da cena se torna tão poderoso e com tão pouco. Por mais que não seja um filme que impressione tanto quanto os outros do diretor, ainda é um filme com uma linguagem marcante. 

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