
Este filme explora o lado mais
cômico de Rossellini, sustentado pela atuação burlesca, principalmente por
conta de seu olhar duro, de Totò. Sem deixar de lado, é claro, o aspecto social
sobre o que o isolamento social proposto pelas penitenciárias causa nos
detentos em sua saída. Já que é uma comédia dramática sobre a vida de
Salvatore, um homem que foi liberto, mas deseja voltar a prisão.
Salvatore foi preso por um crime passional, depois de
anos na prisão é liberado. Acreditando ser uma verdadeira felicidade tal fato,
se incomoda com as mudanças sociais ocorridas e tem dificuldade de se ajustar.
Primeiro para com o emprego, como conseguir com a fama de um detento, por mais
que em alguns ambientes ele seja um total desconhecido, sempre algo surge. A
verdade é que ele desejava sua mulher de volta e seu percurso é completamente
orientado por este desejo. Toda a busca de Salvatore é intercalada com o
hilário julgamento no qual pede para ser preso novamente, dessa forma o
espectador fica o tempo todo na expectativa para entender qual motivo o fez
desejar esse retorno de forma tão insistente. Mais cômico ainda é o seu
advogado de defesa, que ele odeia, “por que eu ia querer um advogado de defesa?
Eu quero ser preso”, ele insiste sempre que seu cliente está errado. Dessa
forma, existe uma produção muito próxima ao cinema burlesco de Keaton, Chaplin,
Lloyd, em que situações inusitadas se tornam mais poderosas por um olhar
singelo e com grande profundidade, Totò carrega consigo o mesmo estilo, menos
espalhafatoso, até pelo fato de que seria impossível permanecer tão cômico na
situação do pós-guerra. O teor social, no qual Chaplin carregava mais
fortemente em seus filmes, se entranha na temática que Rossellini expõe, é duro
ver o protagonista com o coração aberto ser rejeitado uma vez atrás da outra,
buscando refúgio no passado, temporalidade está na qual o fez ser preso.
A comicidade ou tragédia da narrativa está em fazer o
espectador perceber que o que está dentro da prisão e o que está fora da prisão
não difere muito. Salvatore percebe isso facilmente quando se encontra com a
família de sua mulher. É duro e engraçado quando o protagonista percebe que sua
vida na prisão continha menos frustrações, menos dores que o mundo lá fora,
isto não é menosprezar a sordidez que existe em tal ambiente e sim é ressaltar
que a realidade por completa é sórdida. Dessa forma, o diretor italiano passei
pelo burlesco ao mesmo tempo que não perde o forte comentário social, já que
seu personagem encontra um novo tipo de liberdade. Não uma liberdade onde se
faça o que se quiser de maneira irrepreensível, mas uma liberdade onde
simplesmente se contente com o pouco, uma liberdade na própria restrição, uma
liberdade na repetição. Existe uma melancolia extrema em suprimir o aberto da
sociedade para que se possa ser feliz, ao mesmo tempo que existe um ponto
crucial de comicidade na certeza de Salvatore de que todo o mundo é que está
insano e doente, ele precisa fugir dos loucos para que pudesse ser feliz.
“Onde está a liberdade? ” questiona de forma singela não
só a liberdade, mas toda uma concepção de prisão, de felicidade. Construindo um
limiar entre o neorrealismo e o burlesco, explorando toda a potencialidade do
rosto simples e de grandes olhos de Totò.
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