
Sendo
este apenas o terceiro longa de ficção do diretor, que já realizou o ótimo Toda
Forma de Amor, novamente dirige um filme singelo e poderoso, que ultrapassa
gerações. Com uma montagem inventiva e um roteiro muito bem elaborado conta a
história de Dorothea que, no fim dos anos 70, sem uma figura masculina, sente
dificuldade de entender seu filho, Jamie, que está entrando na adolescência.
Mills optou por uma abordagem na
qual, apesar de Dorothea, interpretada de forma magistral por Annette Bening,
ser a protagonista da história, ou pelo menos seu ponto de partida, a narrativa
é efetuada por todos os personagens ao redor dela. Pois, cada um deles tem uma
vivência diferente, é como se cada um fosse uma diferente geração. Dorothea é
dona de uma grande casa, na qual aluga alguns quartos, dessa forma outros
personagens secundários ganham uma importância que cria potência para o enredo,
sendo eles Abbie (Greta Gerwig, sempre bem), uma jovem fotógrafa que está
superando um câncer aos vinte e poucos anos, embebida no Post-Punk e no
feminismo, e William (Billy Crudup esbanjando simpatia), um homem de quase
quarenta anos, um homem que vivenciou com intensidade a contracultura dos anos
60, ao mesmo tempo que é uma pessoa da práxis e simples. Julie (interpretada
por Elle Fanning, cada vez mais madura em suas atuações), amiga de Jamie, é
como um turbilhão de angústia por uma vida familiar complexa e um desejo
autodestrutivo ainda mais complexo.
Dessa forma, sempre colocando os ideais de cada geração em contradição,
o jazz da mãe e o Post-Punk (representado de forma icônica por Talking Heads na
trilha sonora) do filho, a facilidade lógica para resolver os problemas da mãe,
a angústia geral da chegada dos anos 80. Então, cada personagem do filme se
alimenta tanto dessa relação, já que a mãe pede para todos ajudarem de alguma
forma seu filho a se tornar um adulto (ou como sugerido no filme um homem), ao
mesmo tempo que a história individual de cada um é contada. Com uma montagem
que mistura imagens diversas, mas que falam muito sobre cada uma das gerações, utilizando,
também, de diversos recursos como aceleração de vídeo, efeitos visuais que
relembram o vhs, com a superposição de cores e a voz em off, este último é
ainda mais interessante, pois muitas vezes é como se houvesse um diálogo entre
os personagens em off, pelo fato de que suas falas se complementam, se conectam
com certa beleza e eloquência.
É interessante ver também a inserção
da temática do feminismo ao olhar de um jovem que não entende muito sobre o
mundo, suas angustias com a leitura, sua tentativa de entender as mulheres e
mais precisamente sua mãe a partir de livros densos sobre o feminismo.
Introduzindo o assunto como orgânico à narrativa, pois toda a insegurança da
mãe começa quando dúvida da sua capacidade de criar um menino para ser um
homem, não é à toa que pede primeiro que Jaime se aproxime de William. Jaime,
interpretado por Lucas Zuuman, parece realmente à procura de algo para se
conectar, seus longos passeios de Skate, seu apreço ao feminismo (numa
tentativa de entender as mulheres ao seu redor), suas brincadeiras
autodestrutivas, todas estas coisas demonstram uma experimentação em tentar
entender o mundo que o rodeia, assim como Dorothea que com ajuda de pessoas
completamente diferentes dela, para ajudar na criação de seu filho, ao mesmo
tempo que experimenta novas formas de olhar o mundo, a partir de uma nova
geração, de diferentes gerações. Essa pluralidade de perspectivas que conduzem
a narrativa constroem um belo retrato de certa simplicidade na vida, ao mesmo
tempo que complexidade.
Mike
Mills parece ter se especializado em construir este tipo de narrativa, simples
e que abordam a complexidade da vida. Mulheres do século XX é um filme sobre a
vida de diversos personagens, principalmente mulheres, do começo ao fim, a
partir de um pequeno período de experimentação de Dorothea.
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