segunda-feira, 21 de agosto de 2017

2016 – Mulheres do Século XX (Mike Mills, EUA) ****(4)

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Sendo este apenas o terceiro longa de ficção do diretor, que já realizou o ótimo Toda Forma de Amor, novamente dirige um filme singelo e poderoso, que ultrapassa gerações. Com uma montagem inventiva e um roteiro muito bem elaborado conta a história de Dorothea que, no fim dos anos 70, sem uma figura masculina, sente dificuldade de entender seu filho, Jamie, que está entrando na adolescência.
            
Mills optou por uma abordagem na qual, apesar de Dorothea, interpretada de forma magistral por Annette Bening, ser a protagonista da história, ou pelo menos seu ponto de partida, a narrativa é efetuada por todos os personagens ao redor dela. Pois, cada um deles tem uma vivência diferente, é como se cada um fosse uma diferente geração. Dorothea é dona de uma grande casa, na qual aluga alguns quartos, dessa forma outros personagens secundários ganham uma importância que cria potência para o enredo, sendo eles Abbie (Greta Gerwig, sempre bem), uma jovem fotógrafa que está superando um câncer aos vinte e poucos anos, embebida no Post-Punk e no feminismo, e William (Billy Crudup esbanjando simpatia), um homem de quase quarenta anos, um homem que vivenciou com intensidade a contracultura dos anos 60, ao mesmo tempo que é uma pessoa da práxis e simples. Julie (interpretada por Elle Fanning, cada vez mais madura em suas atuações), amiga de Jamie, é como um turbilhão de angústia por uma vida familiar complexa e um desejo autodestrutivo ainda mais complexo.

Dessa forma, sempre colocando os ideais de cada geração em contradição, o jazz da mãe e o Post-Punk (representado de forma icônica por Talking Heads na trilha sonora) do filho, a facilidade lógica para resolver os problemas da mãe, a angústia geral da chegada dos anos 80. Então, cada personagem do filme se alimenta tanto dessa relação, já que a mãe pede para todos ajudarem de alguma forma seu filho a se tornar um adulto (ou como sugerido no filme um homem), ao mesmo tempo que a história individual de cada um é contada. Com uma montagem que mistura imagens diversas, mas que falam muito sobre cada uma das gerações, utilizando, também, de diversos recursos como aceleração de vídeo, efeitos visuais que relembram o vhs, com a superposição de cores e a voz em off, este último é ainda mais interessante, pois muitas vezes é como se houvesse um diálogo entre os personagens em off, pelo fato de que suas falas se complementam, se conectam com certa beleza e eloquência.
            
É interessante ver também a inserção da temática do feminismo ao olhar de um jovem que não entende muito sobre o mundo, suas angustias com a leitura, sua tentativa de entender as mulheres e mais precisamente sua mãe a partir de livros densos sobre o feminismo. Introduzindo o assunto como orgânico à narrativa, pois toda a insegurança da mãe começa quando dúvida da sua capacidade de criar um menino para ser um homem, não é à toa que pede primeiro que Jaime se aproxime de William. Jaime, interpretado por Lucas Zuuman, parece realmente à procura de algo para se conectar, seus longos passeios de Skate, seu apreço ao feminismo (numa tentativa de entender as mulheres ao seu redor), suas brincadeiras autodestrutivas, todas estas coisas demonstram uma experimentação em tentar entender o mundo que o rodeia, assim como Dorothea que com ajuda de pessoas completamente diferentes dela, para ajudar na criação de seu filho, ao mesmo tempo que experimenta novas formas de olhar o mundo, a partir de uma nova geração, de diferentes gerações. Essa pluralidade de perspectivas que conduzem a narrativa constroem um belo retrato de certa simplicidade na vida, ao mesmo tempo que complexidade.
           
Mike Mills parece ter se especializado em construir este tipo de narrativa, simples e que abordam a complexidade da vida. Mulheres do século XX é um filme sobre a vida de diversos personagens, principalmente mulheres, do começo ao fim, a partir de um pequeno período de experimentação de Dorothea. 

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