
O
mais recente filme do diretor de comédia neozelandês Taika Waititi, utiliza de maneira
magistral de seu próprio território para construir uma bela e cômica história
sobre família, ou pelo menos sobre a construção do significado de família.
Narrando a história de um jovem, Ricky Baker, que é entregue, pelo conselho
tutelar, a um casal mais velho no meio das florestas da Nova Zelândia, por
conta de sua dificuldade de se filiar acaba entrando numa aventura insana e
cômica.
A construção da ambientação do filme
é um dos principais fatores para a comédia funcionar. Sendo Rick, interpretado
de forma simpática e engraçada por Julia Dennison, um garoto problema que
aparentemente não irá se adaptar, porém quebra a expectativa completamente por conseguir
de maneira singela. Muito por conta de Bella, sua mãe adotiva, que se esforça
de maneira até mesmo caricata, até mesmo compondo canções para o jovem, pois
Hec, interpretado Sam Neil, rabugento e, a princípio, intragável, parece
ignorar a existência do jovem. Por conta de uma tragédia, os dois são obrigados
a viver nas florestas, enquanto a polícia os buscam de maneira desesperada.
Essa sequência de quebras de expectativa, lembram o timing narrativo e Edgar
Wright, por carregar consigo um teor tragicômico, porém, com a comédia
enaltecida. Não tem como não construir uma relação com UP, animação da Pixar, a
relação do jovem com o velho, com o entusiasmo e com a intolerância, travada em
uma região permeada de natureza, faz com que as histórias se espelhem.
Mas
o que torna o filme de Waititi tão distinto desses estilos já citados é o seu
roteiro que parece perseguir o significado de família. Um tema altamente
discutido no âmbito da comédia, que por muitas vezes pretende retratar famílias
sanguíneas, ou amigos de longa data como forma de família. Mas aqui Rick e Hec
são praticamente desconhecidos, que se unem pela experiência na qual estão
passando. O título original “Hunt for the Wilderpeople” faz muito mais sentido
que a terrível tradução. “Wilderpeople” significa, de forma literal, “pessoas
mais selvagens”, algo que é utilizado no filme como afirmação dos personagens.
Dessa forma, a jornada é feita por dois personagens que aprendem o significado
de família, que está além de ligação sanguínea ou o tempo no qual se passa junto
com o outro.
Tendo em vista essa concepção de
mover o roteiro, existem momentos de pura diversão no choque do antigo e do
novo. Seja pela própria tentativa de Rick em produzir Haikus, ou em como ensina
a Hec quem é 2Pac, e a importância de construir uma identidade. As piadas
juvenis e que referenciam a cultura pop como Senhor dos Anéis e ainda o próprio
“Thug Life” do Hip-Hop americano criam vida ao filme. Além disso, é notória a
habilidade do diretor em construir piadas visuais, tanto com a montagem quanto
com o movimento de câmera e dos personagens. Existe um momento, em específico,
que Waititi conduz um travelling pela floresta como forma de “time skip”, ou
seja, de conduzir a narrativa a um tempo futuro de maneira rápida. Dessa forma,
Rick, Hec, seus perseguidores, tanto nativos, quanto policiais se misturam e se
encontram neste belíssimo movimento de câmera. De forma geral, é um filme que
não é hilariante como seu filme anterior “O que fazemos nas sombras”, o que
também não era a intenção, mas como unidade narrativa consegue ser tão
interessante quanto.
Posto isso, pode se dizer que
Waititi vem se estabelecendo como um dos diretores de comédia mais ativos e
coesos dos tempos mais recentes. Procurando produzir filmes divertidoz e com
estilo, sempre os tornando tanto visualmente engraçados quanto em seu texto.
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