quinta-feira, 17 de agosto de 2017

2015 – Mistress America (Noah Baumbach, EUA) **** (4.0)

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Noah Baumbach é muito conhecido pelas suas comédias que transitam cheias de sabor pelo cinema independente americano, sempre retratando muito bem a contemporaneidade. Dando ênfase aos diálogos, mas sempre as compondo de forma perfeita à sua estética, por conta da eloquência deles, produzindo uma espontaneidade, algo que se aproxima de Woody Allen. Neste filme, Mistress America, Tracy é uma jovem que acabara de entrar na faculdade de letras em Nova York, com dificuldade de se adaptar ao grupo, mas com um ímpeto de contar histórias, conhece sua meia-irmã (filha do noivo de sua mãe, com o casamento batendo na porta), Brooke, que vive uma vida completamente diferente e cheia de frescor.
            
Optando por uma paleta de cores leves para retratar a vivência de suq personagem, numa situação quase que apática com seus estudos, pois se interessa imensamente pela literatura, mas, ao mesmo tempo, percebe o quão diferente ela é de seus colegas. Sua única amizade lhe causa uma certa paixão que logo é refreada, já que ele aparece com uma namorada pouco depois. Como se tudo ao seu redor não estivesse a favorecendo, neste momento já se percebe a eloquência com qual os personagens dialogam, as falas do roteiro, são ditar com uma velocidade grande, mas com certo fervor aprazível, conseguindo criar um belo retrato da juventude atual. Quando Tracy finalmente conhece sua irmã, a história ganha um contorno muito interessante, pois, ela consegue ser ainda mais veloz que qualquer outra, suas falas chegam uma, atrás das outras, sempre com histórias diferentes, sonhos diferentes, desejos e conhecimentos diferentes. Ela é tudo que Tracy não é, completamente dona de sua vida, se esforça muito para conseguir o que almeja. Dessa forma, se complementam, Brooke é a inspiração, o vício de Tracy. Contanto, como Baumbach consegue permanecer cinematográfico, sem se tornar teatral, ou melhor, sem tornar seu cinema um teatro filmado? A espontaneidade dos personagens é o primeiro ponto, no cinema ela tende se afastar do teatro, segundo, o número de piadas visuais só aumenta com o desenrolar do filme, que se alimenta também de um uso sábio de sua cor, colocando em contradição o blasé da faculdade da protagonista, com as luzes e cores de Nova York. Com isto, o plano ganha mais textura e afasta completamente sua obra do teatro filmado que por vezes ocorre, ainda hoje.
            
Com isto, o diretor produz um filme que não só faz o que é primário, ser cinematográfico, mas o faz com total domínio de seu próprio estilo, a leveza que uma história verborrágica como essa ganha é de se impressionar.  Com pequenas nuances retrata o vazio de uma geração que parece viciada em construir histórias no qual apenas observa, nunca consegue fazer algo, mas no caso da protagonista do filme, observar, elaborar em narrativa, a faz aprender e reagir sobre o mundo. Agindo assim como uma oportunidade para se entender como escritora. Se as duas protagonistas são um prato cheio para pequenas piadas, os secundários, com certa dose de caricatura são um prato cheio para piadas visuais, que surgem uma atrás da outra, seja um olhar mais severo, um suspiro em coro, gestos que pela situação se tornam cômicos. Portanto, os bons personagens adocicam o que enredo e as atuações de Greta Gewirg solta, expressiva e sempre corriqueira, consegue dar vida ao seu papel de maneira bela, Lola Kirke, tímida, singela e sempre com uma olhar ingênuo e verdadeiro.
            
Mistrees America é uma narrativa leve, cômica que não pretende escancarar suas piadas e consegue fugir de uma verborragia sem sentido. O vazio de seus personagens é propulsor de suas falas, por mais que em nenhum momento eles cheguem a perceber o que os move. Uma observação que produz em subtexto, em nuances, assim como a comédia do filme. 

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