
Um
indigesto filme sobre ódio de Cronenberg, que toca no ambiente edipiano de uma
forma pesada e forte. Conseguindo construir um bom drama, aliado de um terror
trash para expressar os horrores de um divórcio. Narrando a história de Frank,
um homem que está desesperado, pois sua ex-mulher, Nola, está com a saúde
mental fragilizada e ele teme que isso afete a vida de sua pequena filha.
Ao iniciar o filme com a cena de uma
peça de teatro, que também serve como experimento psicológico/terapêutico,
percebe-se muito bem que o diretor pretende trabalhar com a angústia de seus
personagens. Sua mulher que, de início, parece sofrer de uma doença somática, fazendo
surgir marcas em seu corpo. Nola ainda é dependente de seu terapeuta que
trabalha com um estilo teatral e performático, no qual o protagonista assiste
no início do filme. Sendo assim introduzido a ideia do Psicoplasma, um
tratamento que faz as feridas no corpo aparecerem em consequência da raiva,
servindo como forma de dissipar a dor psicologia em dor física. Mais uma vez
Cronenberg não foge de sua temática primeira, relação da mente e do corpo,
talvez mais precisamente como sua conexão consegue afetar um e outro por meios
diferentes. Neste enredo, existe um uso de cores vívidas, muito próprias dos
anos 70, os papéis de parede das casas são de cores leves e calmas, mas ao
mesmo tempo brilham, assim como no momento em que Frank vai ao legista e uma
luz roxa (o roxo no cinema é muitas vezes usado para retratar a morte) explode
no ambiente, ressaltando a cor como potencial sensorial. A montagem em certos
momentos acelerada parece surgir para não mostrar certas falhas na produção de
cenas de ação, ao mesmo tempo que se fazem no gênero do trash, no qual grande
parte dos filmes iniciais do diretor parecem viver num limiar. Não só pelo seu
gosto pelo grotesco que é imensamente explorado (com certeza com menos
precisão) no cenário do horror trash.
Os Filhos do Medo se torna realmente
interessante com o primeiro assassinato que ocorre. Uma criança de rosto
desfigurado e andar desengonçado mata a sogra de Frank, que a protegia. Este
primeiro assassinato serve para diversos personagens se movimentem em busca de
um entendimento do que está acontecendo com Nola. Aí que o Psicoplasma se
revela de fato, a dor, o medo, o ódio, todos os afetos que em sua forma
psíquica já são praticamente insuportáveis incidem sobre o corpo até que esse
também não o suportem, o levando ao limite, fazendo que ele expulse esse
sentimento. Dessa forma, o corpo dá vida a criaturas estranhas, que falam sobre
os desejos mais profundos gerados pelos afetos desnorteados e incontroláveis do
ser humano. O terapeuta é um experimentador, transformou a experiência da dor
de sua paciente em um experimento dos mais terríveis. Ele deu forma material à
dor física que um dia fora mental, tornando Nola alucinada. Tendo isso em
vista, quando a mente e o corpo chegam em seu limite, neste filme, existe uma
produção de realidade material que carrega todo o subjetivo já completamente
degenerado de sua personagem.
Cronenberg encerra seu filme de
forma assustadora e grotesca. Revelando todo o verdadeiro processo do
psicoplasma. Construindo, assim, um filme de terror que perpassa diversas
questões intensas sobre a maneira que o corpo e mente se relacionam, e de forma
mais assustadora de como o desejo sempre é louco e irrepreensível. Em certo,
momento chega-se à conclusão que Cronenberg tem medo da liberdade do
inconsciente, por isso sempre dirige seus filmes com este pavor e com sua
estética grotesca, mas é bem verdade que ela parece assustadora.
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