terça-feira, 15 de agosto de 2017

2015 – Para o Outro Lado (Kiyoshi Kurosawa, Japão) ***1/2 (3.5)

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Kiyoshi Kurosawa ficou muito conhecido no fim dos anos 90 por seus suspenses e filmes de terror eloquentes, com um uso ideal de recursos cinematográficos para produzir tensão. Com o passar dos anos em sua carreira, começou a produzir filmes mais focados no drama que no suspense, sendo tão bem-sucedido quanto. Para o Outro Lado transita entre os dois estilos do diretor, sendo mais preciso, é um drama sobre um homem que volta como espírito para mostrar a sua mulher todos os lugares que visitou enquanto esteve morto.
            
Inegavelmente lírico e com um tremendo poder no uso de iluminação, a narrativa lenta, contemplativa, faz bom uso de um roteiro que infelizmente é limitado. Yusuke, o marido, em sua aparição conquista de forma rápida a esposa, Mizuki, é como se ela já estivesse esperando por ele por muito tempo. A grande potência do filme, de fato, se encontra em mostrar uma zona de indiscernibilidade entre os vivos e os mortos, pois os que morreram por vezes esquecem de tal fato. Yusuke, ao visitar os locais e narrar a história de cada um dos habitantes daqueles territórios, para sua esposa e para os espectadores, torna cada vez mais notório este objetivo. Mostrando, assim, que muitos mortos, assim como ele, retornam para entes queridos, pois são eles que não conseguiram passar pelo luto da morte, da própria morte. Dessa forma, a jornada do casal se torna não só um processo de elaboração de luto para Mizuki, mas sim para seu marido, ou seja, o luto do morto, elaborado pelo morto. As histórias narradas sempre com uma grande relação com a morte são tristes e levemente repetitivas o que as torna cansativas. Tudo se torna mais agradável com as ótimas atuações de Tadanobu Asano, sempre espetacular, aqui faz um papel singelo e que esconde os anseios de seu personagem e de forma ainda mais maravilhosa Eri Fukatsu constrói uma mulher forte e permeada de dúvidas, sendo guiada pela pessoa que ama numa busca de sentido.
            
Existem momentos icônicos do uso de iluminação do filme que intensificam as cenas, como o sumiço inicial de Yusuke, em que a luz parece sumir por completo. A baixa luz no intenso momento em que a irmã mais nova de sua amiga surge e toca piano, deixando-a em prantos e talvez a mais forte seja nos momentos em que Yusuke aparece dando uma aula, ou palestra para um grande número de pessoas de vila. Suas palavras são belas e monistas, ou seja, construindo uma proposta que tudo é um. Descrevendo como tudo no universo é feito da mesma substância, está substância seria nomeada por ele como “quase nada”, uma luz irrompe da janela paulatinamente, até escurecer parte de seu rosto e transforma todo o seu discurso em algo memorável. Com o passar das narrativas, parece que a grandiosidade da premissa se enfraquecem, não que se tornem ruim, mas seus embates sobre luto reiterados conseguem torna-las melodramáticos. Se o roteiro parece se cansar, os recursos do diretor parecem cada vez mais poderosos. Utilizando pouquíssimos dos efeitos visuais ainda consegue construir uma história sobre fantasma como um mestre, o buraco de escuridão debaixo da cachoeira que dizem ser a passagem para o mundo dos mortos, elaborada com extrema simplicidade e com o aspecto rudimentar conseguem ser mais lírico que algo mais tremendamente elaborado e cheio de CGI.
            
Kurosawa continua sendo um mestre tanto no drama como na sua abordagem sobrenatural, utilizando de recursos muito próprios do cinema para construir seu universo próprio. Para o Outro Lado, pode se tornar melodramático por sua exaustão do tema, mas não deixa de ser poético e belo, conseguindo atingir tais categorias com um bom par de atores e uma direção atenta. 

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