O
mais recente filme do diretor coreano, Kim Jee-Woon, segue no seu ritmo
frenético de filmes do gênero de ação, aqui mesclando o cinema noir americano
com a estética coreana dos anos 20, para construir suspense, ao mesmo tempo que
integra nas cenas de ação um aspecto próximo ao do cinema de Hong Kong. Antes
que pareça uma verdadeira confusão estética, ou um simples compilado de
referências, o diretor consegue produzir uma forma ideal para contar a sua
história. Narrando a relação de um policial chamado Lee Jung-Chol (interpretado
sempre magistralmente por Song Kang-Ho), durante a ocupação Japonesa na Coreia,
com o grupo revolucionário coreano.
A cena inicial consegue ser uma
ótima introdução para que filme o espectador está para assistir. Uma pequena
negociação que se torna uma perseguição gigantesca, usando de um cenário cheio
de relevo, que recria com precisão e beleza o clima da época, uma mistura de
aspecto feudal com modernidade. A montagem é utilizada de forma dinâmica, até
mesmo veloz, para mostrar a ação de diversos personagens, apesar disso,
consegue concentrar o objetivo principal de toda aquela movimentação, o alvo a
ser perseguido. Este é o momento em que os aspectos do cinema de Hong Kong se
sobressai, na montagem, não é pelo exagero das lutas ou da violência dos
tiroteios, mas sim, por uma montagem limpa, que consegue ser extremamente
objetiva, ou seja, põe a atenção do espectador em só ponto, ao passo que
passeia por diversos personagens. Dessa forma, o ritmo dessa sequência é ideal
para construir a tensão que irá perdurar durante o filme, por mais que ação
seja suprimida em favor da espera e do suspense habitual da espionagem.
Noir se demonstra, no momento em que Lee Jung-Chol faz sua
jornada para, a primeiro momento, destruir o grupo revolucionário, construindo um
jogo de gato e rato à moda antiga. Os modos que o grupo escapa, principalmente,
Kim Woo-Jin (interpretado cheio de sutilezas por Gong Yoo), que se disfarça
como vendedor de uma loja de penhores. O uso de luz e do ambiente da cidade
chuvosa consegue produzir o clima, ou a ambiência ideal para o suspense. Sem
contar a presença destes dois fortes personagens, enquanto um parece duvidoso
do que faz e começa a simpatizar com o seu próprio povo novamente, o outro
mostra-se um verdadeiro nacionalista (porém, aqui, faz-se um bom uso do termo).
Reforçando de passagem, a fotografia e o design de produção do filme estão
realmente exuberantes conseguindo trazer o sabor das luzes noturnas de forma
realmente poderosas, assim como nos grandes filmes noir.
Uma sequência na qual demonstra com
precisão a habilidade que Kim Jee-Woon tem com o gênero do suspense (Ele já fez
de tudo, western, terror, comédia, mas sempre se sobressaem o seu lado com o
cinema de ação e suspense) é a sequência do trem, na qual todos os membros do
grupo revolucionários estão em direção à próxima estação para realizar um
atentado. Porém, a polícia está no trem. A sequência que perdura por bastante
tempo, enquanto os policiais vêm e vão, caminham de um lado a outro à procura
dos seus inimigos. A tensão só cresce com os olhares, os diálogos de corredores
que ocorrem entre os dois protagonistas do enredo. Neste momento, Hashimoto
(interpretado por Eom Tae Goo), o segundo no comando da polícia cresce como
personagem, seu lado violento, beirando o caricato, torna-se de fato um fator
que deixa o espectador apreensivo com todo o resultado, sem contar pequenas
revelações e encontros que são realizados. Tudo isto parece se intensificar com
a claustrofobia do pequeno espaço do trem ao mesmo tempo com a pompa e
estilização do mesmo. Infelizmente, com o fim dessa sequência o filme perde seu
ritmo, só o recuperando nos últimos momentos.
A Era das Sombras é um bom suspense,
assim como um bom filme de ação. Kim Jee-Woon conduz o longa com bastante precisão,
aliado de um bom roteiro que, apesar de se enfraquecer no fim, consegue
produzir momentos memoráveis e intensas, dignas dos bons noirs americanos dos
anos 40.
Nenhum comentário:
Postar um comentário