segunda-feira, 14 de agosto de 2017

2016 – A Era das Sombras (Kim Jee-Woon, Coreia do Sul) **** (4)

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O mais recente filme do diretor coreano, Kim Jee-Woon, segue no seu ritmo frenético de filmes do gênero de ação, aqui mesclando o cinema noir americano com a estética coreana dos anos 20, para construir suspense, ao mesmo tempo que integra nas cenas de ação um aspecto próximo ao do cinema de Hong Kong. Antes que pareça uma verdadeira confusão estética, ou um simples compilado de referências, o diretor consegue produzir uma forma ideal para contar a sua história. Narrando a relação de um policial chamado Lee Jung-Chol (interpretado sempre magistralmente por Song Kang-Ho), durante a ocupação Japonesa na Coreia, com o grupo revolucionário coreano.
            
A cena inicial consegue ser uma ótima introdução para que filme o espectador está para assistir. Uma pequena negociação que se torna uma perseguição gigantesca, usando de um cenário cheio de relevo, que recria com precisão e beleza o clima da época, uma mistura de aspecto feudal com modernidade. A montagem é utilizada de forma dinâmica, até mesmo veloz, para mostrar a ação de diversos personagens, apesar disso, consegue concentrar o objetivo principal de toda aquela movimentação, o alvo a ser perseguido. Este é o momento em que os aspectos do cinema de Hong Kong se sobressai, na montagem, não é pelo exagero das lutas ou da violência dos tiroteios, mas sim, por uma montagem limpa, que consegue ser extremamente objetiva, ou seja, põe a atenção do espectador em só ponto, ao passo que passeia por diversos personagens. Dessa forma, o ritmo dessa sequência é ideal para construir a tensão que irá perdurar durante o filme, por mais que ação seja suprimida em favor da espera e do suspense habitual da espionagem.

Noir se demonstra, no momento em que Lee Jung-Chol faz sua jornada para, a primeiro momento, destruir o grupo revolucionário, construindo um jogo de gato e rato à moda antiga. Os modos que o grupo escapa, principalmente, Kim Woo-Jin (interpretado cheio de sutilezas por Gong Yoo), que se disfarça como vendedor de uma loja de penhores. O uso de luz e do ambiente da cidade chuvosa consegue produzir o clima, ou a ambiência ideal para o suspense. Sem contar a presença destes dois fortes personagens, enquanto um parece duvidoso do que faz e começa a simpatizar com o seu próprio povo novamente, o outro mostra-se um verdadeiro nacionalista (porém, aqui, faz-se um bom uso do termo). Reforçando de passagem, a fotografia e o design de produção do filme estão realmente exuberantes conseguindo trazer o sabor das luzes noturnas de forma realmente poderosas, assim como nos grandes filmes noir.
            
Uma sequência na qual demonstra com precisão a habilidade que Kim Jee-Woon tem com o gênero do suspense (Ele já fez de tudo, western, terror, comédia, mas sempre se sobressaem o seu lado com o cinema de ação e suspense) é a sequência do trem, na qual todos os membros do grupo revolucionários estão em direção à próxima estação para realizar um atentado. Porém, a polícia está no trem. A sequência que perdura por bastante tempo, enquanto os policiais vêm e vão, caminham de um lado a outro à procura dos seus inimigos. A tensão só cresce com os olhares, os diálogos de corredores que ocorrem entre os dois protagonistas do enredo. Neste momento, Hashimoto (interpretado por Eom Tae Goo), o segundo no comando da polícia cresce como personagem, seu lado violento, beirando o caricato, torna-se de fato um fator que deixa o espectador apreensivo com todo o resultado, sem contar pequenas revelações e encontros que são realizados. Tudo isto parece se intensificar com a claustrofobia do pequeno espaço do trem ao mesmo tempo com a pompa e estilização do mesmo. Infelizmente, com o fim dessa sequência o filme perde seu ritmo, só o recuperando nos últimos momentos.
            
A Era das Sombras é um bom suspense, assim como um bom filme de ação. Kim Jee-Woon conduz o longa com bastante precisão, aliado de um bom roteiro que, apesar de se enfraquecer no fim, consegue produzir momentos memoráveis e intensas, dignas dos bons noirs americanos dos anos 40. 

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