
Este primeiro longa de
Fellini, que divide a direção com Alberto Lattuada. Ele pincela seu estilo e
demonstra a visão das pequenas cidades italianas sobre a grande capital Roma.
Com a trupe de artistas, os cosmopolitas, os mendigos. Narrando a história de Lilly
uma jovem e ambiciosa mulher que, ao assistir à apresentação da trupe de Checco
Dal Monte, acaba por adentrar no universo dos artistas de rua italiano.
É interessante perceber o aspecto do Neorrealismo neste
longa, por mais que não queira necessariamente abordar um assunto com uma
crítica social. O que se apresenta aqui é um retrato realista, por mais que
carregado de sonho, dos shows dos vaudevilles, da fervorosa paixão de alguns ou
ainda pela ambição da fama. A cena inicial do longa é muito bem elaborada, já
que Lilly se encontra numa plateia e assiste com os olhos brilhando a apresentação
do grupo de Checco Dal Monte. Buscando em todos os ângulos, em todos os
close-ups criar um aspecto de mágico à apresentação, torná-la especial ao
público que se contagia pelo movimento do palco. Essa trupe, quase que de
circo, se apresenta num vaudeville, que também era espaço para exibição de
filmes nos primeiros anos do cinema, sendo caracterizado como um teatro barato,
para a população pobre.
A narrativa inicia, de fato, quando Lilly esbarra no
olhar de Dal Monte, que logo se apaixona por ela, pela sua jovialidade, seu
olhar sedutor, mas também pela sua ambição. Convocando-a para ser dançarina,
além de chamá-la para suas apresentações em Roma. Um tema que é eterno em
Fellini já se encontra aqui, as complicações de bastidores de qualquer apresentação
artística, a entrada de uma pessoa com um ego tão alto e a permissividade de um
homem apaixonado, fazem com que a trupe comece a se dissolver, a perder suas
forças. Melina Amour, interpretada por Giulietta Masina, era, até então, a fiel
companheira de Dal Monte, porém essa começa a perder seu espaço para novata e
aos poucos desisti da trupe. Ela consegue perceber de uma maneira simples o
olhar da jovem que só age pelo próprio ego.
Entre as intrigas e erros da trupe, o grande momento do
longa se encontra na madruga, nas ruas vazias de Roma, em que apenas os
artistas, ou mendigos, seja como você preferir, ainda permanecem ativos.
Americanos, russos, tantos personagens diferentes até mesmo uma brasileira que
impressiona ao cantar “Meu Limoeiro”, canção popular brasileira. A visão que os
personagens da trupe constroem de Roma é de uma cidade comandada por burgueses,
mas que vive, respira arte pelos becos, pelas ruelas, na verdade por todo canto
moribundo que conecta a cidade com o mundo.
Em termo técnicos, o longa é visualmente simples,
carregado de atuações exuberantes, mas que carrega consigo uma montagem nas
apresentações e na presença dos artistas que constrói um aspecto vívido e belo
da arte. Como de praxe do diretor e em muitos longas do Neorrealismo, as vozes
são dubladas e em alguns momentos essa técnica atrapalha bastante a atuação de
alguns personagens secundários, porém não acarreta em algo péssimo em sua maior
parte do tempo.
Por fim, cabe dizer que está uma boa estreia, consolidada
pelo repertório do diretor no neorrealismo. Já trazendo algumas de suas maiores
obsessões como a vida frenética e melancólica dos artistas, os erros que se
repetem incessantemente e a magia da noite em Roma. Mulheres e Luzes não é uma
história sobre ciúmes e sim sobre o encanto da arte.
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