
Ao
Cair da Noite é um filme de terror que tem como principal intuito trabalhar o
medo do desconhecido, por isso, ele entrega pouquíssimas informações sobre o
que está acontecendo com o mundo. Com uma montagem que prioriza planos longos,
narra a história de uma família que vive confinada em sua casa na floresta, com
medo de todos que se aproximam e batalham contra um tipo de doença sem
explicação.
Essa família é composta por Paul,
interpretado com a robustez de um pai rigoroso por Joel Edgerton, um homem que
faz tudo por sua família, Sarah, interpretada por Carmen Ejogo, uma mãe que é
carinhosa e cuidadosa, mas que se necessário consegue ser ainda mais rigorosa
que seu marido e, por fim, Travis, interpretado com uma intensidade juvenil por
Kevin Harrison Jr, um jovem que desconhece o mundo fora de sua casa, vive
assombrado por seus sonhos, alguns intangíveis, outros tão reais que machucam.
O longa inicia após a morte do pai da Sarah, que foi acometido pela misteriosa
doença e faleceu. Sua figura adoecida é uma das imagens mais terríveis do
filme, se não a mais terrível, com sua figura esguia, olhos completamente
pretos e movimentos esdrúxulos.
A narrativa muda seu foco quando um
homem chamado Willl, interpretado com um olhar dúbio por Christopher Abbot, tenta
invadir a casa deles. Paul se identifica com a postura do homem quando diz que
esteva fazendo tal ato por sua família. Dessa a forma, as duas famílias passam
a conviver em conjunto na mesma casa. Nesse confinamento terrível, o diretor
passeia pelos cômodos à noite, como se caminhasse por um labirinto. Criando uma
atmosfera extremamente tensa, com pouquíssima iluminação, normalmente em locais
específicos para que as sombras se projetassem nas paredes e ao redor dos
personagens. O grande silêncio que preenche as cenas também ajuda, assim como a
luz, a produzir o medo do desconhecido. Não podemos compreender o que acontece
ao mundo, não podemos ver o que está ao nosso redor, não podemos sair daquela
casa, não podemos escutar nenhum som, confinando o espectador numa espécie de
paranoia coletiva.
Observando a sociedade contemporânea
é possível perceber como esse filme funciona como atestado cultural da
paranoia, principalmente americana, mas não só a deles, em relação os
imigrantes. Sobre o que está para além do que seus olhos e ouvidos podem absorver.
Veja bem, o único que tem um contato razoável com a família de Will é Travis, o
jovem da família. Primeiro, por conta de sua enorme solidão, em segundo por
conta de seu despertar sexual. Ele observa pelas paredes da casa o casal
conversando e se diverte como um voyeur solitário, até começar a desejar
sexualmente Kim, interpretada por Riley Keough.
Sendo assim, qualquer deslize da
família “estrangeira” poderia ser crucial para os pais de Travis, pois no fim,
não o conheciam. A desconfiança sempre é tamanha que não existe espaço para que
se diga a verdade, a mentira se torna a única ferramenta de comunicação. Com
isto, o desenrolar do enredo é lento, movimentando-se pelos enormes corredores
casa, dia após dia, amordaçando o espectador com cuidado para que o medo se
construa pelo que é impossível de se perceber. Assim, até alguns objetos
substituem o real objeto do medo, como por exemplo, a porta vermelha que separa
os recintos que os personagens realmente usam com a frente da casa.
Esse é apenas o segundo filme de
Trey Edwards Shultz, trabalhando as conturbadas relações familiares em um único
local, observando de perto as alterações psicológicas de seus personagens
(tanto Krisha quanto em Ao Cair da Noite, por mais que um seja um melodrama e o
outro um terror). Fazendo um filme de terror, que não propõe ao susto, mas a um
medo do desconhecido bem elaborado. A imagem que fica no fim é a do cachorro da
família latindo para o vazio da floresta.
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