terça-feira, 23 de janeiro de 2018

2017 – Death Note (Adam Wingard, EUA) *1/2 (1.5)

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Muitos diretores do cinema adaptam livros ou outras fontes da maneira que bem entendem. Alguns conseguem produzir ótimos filmes dessa forma, seja um Hitchcock ou um Mike Flanagan. Fazendo algumas alterações, mas narrando a história com qualidade. O que não é o caso deste filme, que altera bastante o seu enredo ao ponto de torná-lo idiota, retirando pontos essenciais da obra original por motivo algum. Death Note narra a história de Light que encontra um caderno amaldiçoado, no qual o nome da pessoa escrito nele morrerá.
            
Wingard tenta buscar incessantemente algo construído com uma áurea dos anos 80 em seus longas, em o Hóspede, por exemplo, essa sensação nostálgica toma o longa até de maneira positiva e atmosférica. Em Death Note, exagera no uso do plano holandês, como recurso para causar estranheza, dentro de essa atmosfera habitual oitentista e que parece sustentar a ideia que a história irá explorar as minúcias da vivência escolar sofrida de seu personagem, que é uma espécie de jovem perturbado. Light, interpretado de maneira pouco cativante por Nat Wolfe, se veste como um “emo”, é um aluno inteligente, porém não é exemplar. O seu primeiro encontro com Ryuki, o deus da morte, é bem interessante, pois, a princípio, a criatura está em desfoque, criando espaço para o espectador ter medo do que não consegue visualizar por inteiro, fazendo até mesmo o protagonista perder toda a sua postura.
            
Bem, os efeitos visuais do longa são ruins. É realmente complicado reproduzir as características físicas iguais ao quadrinho do deus da morte, mas o uso completo do CGI o transformou em um personagem de vídeo game inserido num universo real. Além de que sua aparência esguia e movimentação ágil seriam um prato cheio para causar agonia em qualquer cena. Algo que acredito ter sido bem realizado foram as cenas com o gore, as mortes das pessoas são bem intensas e violentas, criando até mesmo um horror maior às possibilidades do caderno. Mas como ia dizendo no parágrafo anterior, a estética de Wingard acabou por fazer de seu filme um Clube dos Cinco com pitadas de Premonição. Contudo, ele não aprofunda nem em um, nem em outro.
            
Para os que já bem conhecem a história, Light se torna Kira, pois acredita ser possível criar um mundo melhor exterminando todos os criminosos do mundo com o caderno. As tensões são criadas, pois seu pai é policial e um dos encabeçados de descobrir quem é este assassino em série, além da participação muito mais implicada de Misa, aqui no filme, uma colega a escola, porém a ambição dela de mudar o mundo e se tornar uma espécie de justiceira é muito maior que o esperado. Seu comportamento chega a ser a de uma psicopata na maneira com engana e puxa o jovem Light para esse universo sem volta. Para completar o conjunto de personagens L, o detetive que está sempre no encalço das ações de Kira. Cheio de manias e trejeitos, dignos de um Sherlock Holmes caricato, aqui no longa perde completamente seu senso de humor. Talvez o grande problema do enredo do longa reside no fato de que suas elipses não ajudam a história a se desenvolver, elas acabam por tornar tudo que acontece no enredo frágil de forma que não se acredita na inteligência nem de L, nem de Kira.
            
Em comparação com a obra original, não existe nada além da premissa que parece ter permanecido como era. Light, no mangá, é um aluno modelo e sempre que possível sua inteligência era mostrada, seja pelos mecanismos que elaborava para ninguém achar o seu caderno, ou pela forma que fugia de L. Além do mais, é ele quem dá o primeiro passo para começar a matar usando o caderno. Quando Ryuki aparece, Light já havia escrito dezenas de nomes. Basicamente toda a atividade e nuance do seu protagonista é retirada para construir um personagem passivo e sem muito desenvolvimento. Misa é o inverso, sua personagem na obra original é passiva, é alienada pela própria imagem, pelo mundo de belezas efêmeras e sua inserção na história é completamente diferente. Por fim, devo comentar sobre L, que por mais que demonstre algumas das estranhezas do personagem do mangá, sua apresentação é feita de forma tão veloz e sua relação com Light é tão pouco explorada que ele apenas se torna um caricato detetive.
            
Não consigo enxergar motivos plausíveis para essas alterações. Nem mesmo para a proposta do diretor. Em certo ponto, parece querer atualizar alguns dos signos apresentados. Não mais o aluno modelo, mas o excluído que é o psicopata inteligente escondido, a jovem bonita e popular é quem realmente comanda os assassinatos, mas nada disso foi bem realizado. Seu enredo é frágil, pois nada é explorado devidamente.
            
Esse foi o pior filme que vi em muito tempo. Digo isso não só pela má adaptação, ou melhor pelas mudanças pouco interessantes, mas sim, por um enredo que não se desenvolve. Por conta de elipses desnecessárias que avançam a história no tempo sem motivo, apenas para que sua história possa terminar. Diferente de filmes que utilizam desse recurso por motivos de desenvolver sua história no tempo sem precisar mostrar todos os detalhes, aqui ele deixa de mostrar o necessário e mostra uma bagunça que em nada parece com Pollack, talvez com os rabiscos de um adolescente que acabou de descobrir o Post-Punk. 

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