sábado, 27 de janeiro de 2018

2015 – Um Homem Chamado Ove (Hemman Holms, Suécia) **** (4.0)

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Essa simples e amarga história consegue causar no espectador um dos gostos mais doces possíveis. Não só pelo seu design de produção, reconstituindo diversos momentos da vida do personagem, mas também pela sua comicidade interessantíssima. Narrando a história do suicida, Ove, cansado da vida que leva e já idoso, acaba por fazer uma inesperada amizade com seus novos vizinhos.
            
Bem, o personagem reside numa pequena rua fechada, na qual ele age como uma forma de patrulheiro. Colocando ordem em tudo e todos. Seu modo de agir rabugento é extremamente bem elaborada por Rolf Lassgard, que com um uso extremamente bem feito de maquiagem, encarna os pesos da idade e de uma vida solitária. As tentativas de suicídio do personagem durante todo o filme dão errado e quando está realizando-as acaba por trazer memórias suas à tona. É nesse modelo que o filme se orienta, a partir de flashbacks. Entretanto, a suave transposição entre o passado e o presente acaba por não fragmentar a história, na verdade, dão um impulso maior à narrativa. Veja bem, quando Ove se lembra de sua vida, de seu passado, falha em se matar e por que falha? Bem, isso é compreendido pela própria doçura das sequências apresentadas.
            
As sequências o mostram jovem, desde antes de conhecer sua esposa, até a sua total paixão. A reconstituição de época é bem elaborada, é possível se imergir no momento histórico, não só pelos trens e ruas, mas pelas cores vivas também. Além disso, a fotografia sempre parece mais ensolarada no passado, em contrapartida com o aspecto frio que permeia o presente. É possível também compreender os motivos do qual o personagem é tão obsessivo pela ordem, a única coisa que lhe sobraram quando sua mulher morreu. Em certo ponto, o romance sensível dos dois lembra àquele apresentado em UP, filme da Pixar, verdadeiro, singelo e necessário. Não é à toa que os dois personagens com a morte de suas esposas tendem a se tornarem extremamente rabugentos.
            
Mas não ache que o longa é uma imersão pura na memória do personagem. Não mesmo. No presente, os novos vizinhos começam a dar trabalho por não conhecerem as suas rigorosas regras, porém ele acaba que por ajudá-los em diversos aspectos. É interessante denotar que esses personagens são árabes, o que remete ao fenômeno da imigração dos árabes à Europa. Algo que é bastante comum nos países nórdicos como Suécia, Noruega e Finlândia, porém ainda assim não é bem visto por todos. Apresentá-los como uma nova rede de apoio à solidão do personagem é como dizer que esses países precisam abrir seus braços mesmo e deixarem de viver no isolamento social, aquém ao que ocorre com o resto do mundo.
            
É interessante como o homem que é apaixonado por carros como o protagonista deste longa, tem como território subjetivo apenas a sua rua. Tão pequena, talvez até simplória, mas para ele com um coração tão grande, essa rua bastava para que seu amor por carro fizesse sentido. O desenrolar do longa e mais precisamente seu fim tornam-se bem bonitos por conta desta forma que aos poucos vai-se quebrando a couraça construída após a morte de sua mulher.
            
Um Homem Chamado Ove é um filme que não é original, essa história pode ser vista diversas vezes no cinema, porém, ela é atual e muito bem narrada. Com ótimas atuações, uma ambientação bem realizada e um senso de humor que faz a risada surgir em momentos inesperados.         

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