domingo, 10 de dezembro de 2017

1943 – Essa Terra é Minha (Jean Renoir, França & EUA) ***1/2 (3.5)

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Este é o segundo longa de Renoir após imigrar aos Estados Unidos por conta da Segunda Guerra Mundial, onde a França foi tomada pelo governo nazista. É exatamente sobre essa insatisfação que este filme do diretor que falar sobre, porém, o aspecto de estúdio, retira a beleza do realismo do diretor e tornam suas composições muito, mas muito enclausuradas. Narrando a história do professor Albert Lory, interpretado Charles Laughton, em sua transformação de um medroso professor para um mártir.
            
É inegável a importância deste filme para o seu tempo, é um filme com grandíssimas pretensões, conseguindo veicular sua mensagem de resistência. Além de que a atuação de Charles Laughton é estupenda, expressando muitíssimo bem a transformação na qual sua personagem passa, onde começa a desafiar governo local. Para contar essa história Renoir criou uma cidade fictícia sendo invadida por um exército fictício. O cenário como um todo sofre de uma plasticidade ruim, mal elabora, diversas cenas se enfraquecem por parecerem pequenas, não de tamanho, mas sem profundidade visual, parece que há poucos figurantes tornando ainda mais a sensação de que se está um estúdio grande. Algo que até então se pensaria ser impossível para o diretor que praticamente inventou o realismo no cinema, seu filme Toni é um precursor do Neorrealismo Italiano. Portanto, há uma diferença óbvia de elaboração estética do Renoir americano para o francês. Outro problema com que o filme acaba por sofrer é por seu didatismo, a cena final, a do tribunal, na qual o professor discursa e enfrenta toda a concepção fascista é realmente potente, porém sua estrutura que parece até mesmo repetida de diversos filmes de tribunal, depende unicamente de suas falas.
            
Além deste momento, o filme é recheado de diálogos excessivos. Que não contém nem metade da poesia do diretor, porém conseguem ainda assim contar uma boa história, principalmente com bons personagens. A mãe do professor, a senhora Emma, o trata ainda como uma criança e chega até mesmo a roubar leite para dar para o mesmo. Ou ainda, a Louise e Paul Martin, que não só parecem guardar segredos, como também são personagens extremamente bem desenvolvidos com o desenrolar da história, sofrendo cada vez de forma mais íntima com a ditadura. Por fim, é cabível perceber, ainda mais que se trata de um filme do Renoir, um elemento de sua estética: o trem. Talvez a cena mais importante de todo o longa, carregando cada vez mais o flerte que o diretor faz com o Noir, esta é a cena do longa que carrega consigo o maior realismo, não por ser realista, mas por conseguir apreender a reviravolta que ocorre na mesma quase sem plasticidade, até mesmo o tremor do enquadramento em cima do trem, capturando ao fundo os soldados nazistas se acumulando na ponte convergem para esta funcionalidade.
            
Dessa forma, Essa Terra É Minha, pode não ser um Renoir dos mais poderosos esteticamente, sempre parece ter algo faltando. Mas ainda assim tem uma relevância política imprescindível, um bom enredo, só lhe falta a poesia que provavelmente sem a mesma liberdade artística o diretor não conseguiu atingir. 

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