Com uma narrativa sobre traição, Truffaut consegue
construir um grande suspense e de fato tornar toda a situação uma agoniante
jornada. Feito que se assemelha ao processo realizado em Um Só Pecado, um filme
seu realizado pelo menos quinze antes. Com belíssimas atuações, o longa conta a
história do caso extraconjugal de Bernard e Mathilde, vizinhos, que já se
conheciam de tempos atrás.
A história se inicia narrada por uma personagem de fora da
situação, a dona do clube de tênis, no qual tanto a família de Bernard quando a
de Mathilde frequentam, porém, ela mantém uma relação próxima ao Bernard, por
isso, introduz a trágica e inevitável história deste caso. A atuação de Gérard Depardieu como Bernard e de Fanny
Ardant como Mathilde é sensacional. O medo, a vergonha, a tensão que os dois só
com os olhos expressam é impressionante. A Mathilde ainda permanece plena, observa
apenas com certa frieza, porém isso enlouquece Bernard, dessa forma, tarda
bastante para que os dois realmente efetuem a traição. A espera é orientada por fades que alongam o
tempo, tornando quase que sufocante a situação para os dois. Além de toda uma
construção ambiental dos olhares pela janela ao toque do casal, com certo
rigor, a câmera se movimenta acompanhando o corpo destes personagens até que se
encontrarem de fato, porém, o suspense paira sobre toda essa ternura que aos
poucos se configura em certo transtorno.
Havia um
motivo para que os dois tivessem receio de se encontrar. O amor que sentiam era
uma verdadeira crise neurótica, se tornavam verdadeiros apaixonados, passivos
por seus afetos, deixando-se completamente atravessar pelos sentimentos que os
impulsionam a mais um relacionamento danoso. Os próprios ângulos e
enquadramentos escolhidos passam a trazer um ar voyeurístico, mais seco e até
tenso. Criando um romantismo exagerado, que transforma o amor num terrível
mecanismo de domínio sobre o corpo do outro. Como num relacionamento proibido o
casal se aproxima na noite, porém não é com a tragédia shakespeariana que
realmente se concretiza o desenrolar de seu enredo, ou melhor de sua narrativa,
mas sim, com o suspense trágico de Hitchcock. Sem precisar de melodrama, ou
muito diálogos o diretor deixa os corpos falarem, se expressarem, moverem-se
por um desejo encarnado.
Deve-se, por
fim, ressaltar a potência da trilha sonora de Georges Delure e da fotografia
fria de William Lubtchansky, que apresenta os personagens em silhueta contra à
luz, enjaulados e sempre afastados, porém mesmo quando juntos, as sombras
permanecem compondo o ambiente, como se houvesse algo à espreita. Talvez o amor
apresentado aqui é o desejo que transtorna os sujeitos, uma intensidade
incontrolável.
Assim sendo, A Mulher do Lado, até certo ponto, é o diretor francês já próximo de seu fim, fazendo um pouco do que já fez anteriormente. Com uma frieza interessante, um pouco desgarrado da afetação da Nouvelle Vague, efetuando o suspense como estética narrativa crucial para o desenvolvimento de suas histórias. Além de é claro, atuações fantásticas, este filme compõe de forma simples e lenta, se tornando um suspense trágico saboroso de se degustar.
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