quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

1981 – A Mulher do Lado (François Truffaut, França) **** (4.0)

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Com uma narrativa sobre traição, Truffaut consegue construir um grande suspense e de fato tornar toda a situação uma agoniante jornada. Feito que se assemelha ao processo realizado em Um Só Pecado, um filme seu realizado pelo menos quinze antes. Com belíssimas atuações, o longa conta a história do caso extraconjugal de Bernard e Mathilde, vizinhos, que já se conheciam de tempos atrás.
            
A história se inicia narrada por uma personagem de fora da situação, a dona do clube de tênis, no qual tanto a família de Bernard quando a de Mathilde frequentam, porém, ela mantém uma relação próxima ao Bernard, por isso, introduz a trágica e inevitável história deste caso. A atuação de Gérard Depardieu como Bernard e de Fanny Ardant como Mathilde é sensacional. O medo, a vergonha, a tensão que os dois só com os olhos expressam é impressionante. A Mathilde ainda permanece plena, observa apenas com certa frieza, porém isso enlouquece Bernard, dessa forma, tarda bastante para que os dois realmente efetuem a traição.  A espera é orientada por fades que alongam o tempo, tornando quase que sufocante a situação para os dois. Além de toda uma construção ambiental dos olhares pela janela ao toque do casal, com certo rigor, a câmera se movimenta acompanhando o corpo destes personagens até que se encontrarem de fato, porém, o suspense paira sobre toda essa ternura que aos poucos se configura em certo transtorno.
            
Havia um motivo para que os dois tivessem receio de se encontrar. O amor que sentiam era uma verdadeira crise neurótica, se tornavam verdadeiros apaixonados, passivos por seus afetos, deixando-se completamente atravessar pelos sentimentos que os impulsionam a mais um relacionamento danoso. Os próprios ângulos e enquadramentos escolhidos passam a trazer um ar voyeurístico, mais seco e até tenso. Criando um romantismo exagerado, que transforma o amor num terrível mecanismo de domínio sobre o corpo do outro. Como num relacionamento proibido o casal se aproxima na noite, porém não é com a tragédia shakespeariana que realmente se concretiza o desenrolar de seu enredo, ou melhor de sua narrativa, mas sim, com o suspense trágico de Hitchcock. Sem precisar de melodrama, ou muito diálogos o diretor deixa os corpos falarem, se expressarem, moverem-se por um desejo encarnado.
            
Deve-se, por fim, ressaltar a potência da trilha sonora de Georges Delure e da fotografia fria de William Lubtchansky, que apresenta os personagens em silhueta contra à luz, enjaulados e sempre afastados, porém mesmo quando juntos, as sombras permanecem compondo o ambiente, como se houvesse algo à espreita. Talvez o amor apresentado aqui é o desejo que transtorna os sujeitos, uma intensidade incontrolável.
            
Assim sendo, A Mulher do Lado, até certo ponto, é o diretor francês já próximo de seu fim, fazendo um pouco do que já fez anteriormente. Com uma frieza interessante, um pouco desgarrado da afetação da Nouvelle Vague, efetuando o suspense como estética narrativa crucial para o desenvolvimento de suas histórias. Além de é claro, atuações fantásticas, este filme compõe de forma simples e lenta, se tornando um suspense trágico saboroso de se degustar. 

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