terça-feira, 19 de dezembro de 2017

2016 – Colossal (Nacho Vigalondo, EUA & Espanha) ***1/2 (3.5)

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Colossal é um filme extremamente inusitado, não só pela sua premissa completamente absurda, mas também por certo afinco em uma narração de uma história que é extremamente trash. Tendo a ajuda Anne Hatheway compondo a personagem principal de forma exemplar e surpreendente. Gloria, a protagonista, após perder o seu emprego e terminar seu relacionamento por conta de seus hábitos (alcoolismo), resolve, então, voltar à sua cidade natal, onde reencontra grandes amigos e descobre estar relacionada de alguma forma com uma bizarra criatura que surge na Coreia do Sul.
            
Resumindo seu enredo o torna ainda mais estranho do que realmente é. É interessante como esse filme contém uma grande inspiração em mangás e ficção científica. A criatura surge como um verdadeiro monstro retirado dos nipônicos quadrinhos sobre mechas, ou seja, sobre robôs gigantes que devem enfrentar tais criaturas gigantescas. Algo que Círculo de Fogo fez recentemente. Porém, o foco aqui é completamente diferente, a situação é tragicômica. Com uma fotografia fria que traz muito bem a melancolia em subtexto à toda comédia, o grande fator monstro se encontra de maneira representativa da situação mental da personagem. Algo como o Médico e o Monstro. Os efeitos especiais em geral são bons, utilizando da estratégia de apenas mostrar o monstro à noite, já que consegue esconder detalhes mais problemáticos da composição gráfica, o que não chamaria de ruim, pelo menos preza pelo relevo cinematográfico. De qualquer forma, não é uma história completamente original, porém sua organização e mistura certamente são singulares.
            
Gloria reencontra com Oscar, interpretado por Jason Sudeikis, um antigo amigo de infância. Que pouco a pouco parece entrar num jogo infantil com a mesma. Enquanto, ela tenta descobrir ao máximo o que está acontecendo e como está acontecendo com ela, ele tenta utilizar de vinganças completamente perversas e infantis, que gradativamente o tornam num antagonista, um vilão quase caricato. O grande problema da história se encontra numa tentativa de justificar seus atos raivosos pela regressão de sua memória para um momento no passado, que divertidamente explica o que está acontecendo aos dois, porém ao mesmo tempo torna tudo menos impactante. Essa infantilidade dos personagens é bem expressa pelos longos diálogos em um parquinho de crianças que está no caminho entre o bar e a casa dos personagens, não só isso, ele começa a ganhar uma importância crucial ao filme quando sua ligação com a infantilidade dos mesmos se torna ainda mais notória. Existe uma cena em especial no parquinho que definitivamente é genial, em que o diretor compõe o quadro de maneira exemplar, utilizando também da intensificação causada pela câmera lenta e construindo um momento derradeiro de relação entre um pequeno ato a um grande ato, basicamente sintetizando bastante o problema chave do longa, da situação de Gloria, seus pequenos atos inconsequentes podem causar a morte de vários em outro país.
             
A direção de Nacho Vigalondo soube manter o tom entre uma comédia e uma tragédia, trazendo o absurdo praticamente como o pressuposto de sua narrativa. Já as atuações, deve-se salientar como a Anne Hatheway está confortável neste papel, fazendo surgir diversos trejeitos e manias de fala com extrema naturalidade, seus trabalhos em filmes independentes realmente são algo a se denotar. Porém, Jason Sudeikis, talvez por um personagem que é mal elaborado e vai se tornando cada vez mais um vilão caricato de um mangá. Em primeiro momento ele está bem, muito por conta de sua facilidade com a comédia, mais em seus momentos finais, sua atuação para o vilão beirando a loucura é apenas frágil. 
            
Colossal é um filme divertido, até pode se dizer diferente, uma empreitada interessantíssima com ecos de o Médico e o Monstro. Por mais que existam alguns problemas narrativos que compliquem demais a composição geral do filme, tornando até mesmo alguns momentos mais fracos e diminuindo certos personagens. 

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