
Colossal é um filme
extremamente inusitado, não só pela sua premissa completamente absurda, mas
também por certo afinco em uma narração de uma história que é extremamente
trash. Tendo a ajuda Anne Hatheway compondo a personagem principal de forma
exemplar e surpreendente. Gloria, a protagonista, após perder o seu emprego e
terminar seu relacionamento por conta de seus hábitos (alcoolismo), resolve,
então, voltar à sua cidade natal, onde reencontra grandes amigos e descobre
estar relacionada de alguma forma com uma bizarra criatura que surge na Coreia
do Sul.
Resumindo seu enredo o torna ainda mais estranho do que
realmente é. É interessante como esse filme contém uma grande inspiração em
mangás e ficção científica. A criatura surge como um verdadeiro monstro
retirado dos nipônicos quadrinhos sobre mechas, ou seja, sobre robôs gigantes
que devem enfrentar tais criaturas gigantescas. Algo que Círculo de Fogo fez
recentemente. Porém, o foco aqui é completamente diferente, a situação é
tragicômica. Com uma fotografia fria que traz muito bem a melancolia em
subtexto à toda comédia, o grande fator monstro se encontra de maneira
representativa da situação mental da personagem. Algo como o Médico e o
Monstro. Os efeitos especiais em geral são bons, utilizando da estratégia de
apenas mostrar o monstro à noite, já que consegue esconder detalhes mais
problemáticos da composição gráfica, o que não chamaria de ruim, pelo menos
preza pelo relevo cinematográfico. De qualquer forma, não é uma história
completamente original, porém sua organização e mistura certamente são singulares.
Gloria reencontra com Oscar, interpretado por Jason
Sudeikis, um antigo amigo de infância. Que pouco a pouco parece entrar num jogo
infantil com a mesma. Enquanto, ela tenta descobrir ao máximo o que está
acontecendo e como está acontecendo com ela, ele tenta utilizar de vinganças
completamente perversas e infantis, que gradativamente o tornam num
antagonista, um vilão quase caricato. O grande problema da história se encontra
numa tentativa de justificar seus atos raivosos pela regressão de sua memória
para um momento no passado, que divertidamente explica o que está acontecendo
aos dois, porém ao mesmo tempo torna tudo menos impactante. Essa infantilidade
dos personagens é bem expressa pelos longos diálogos em um parquinho de
crianças que está no caminho entre o bar e a casa dos personagens, não só isso,
ele começa a ganhar uma importância crucial ao filme quando sua ligação com a
infantilidade dos mesmos se torna ainda mais notória. Existe uma cena em
especial no parquinho que definitivamente é genial, em que o diretor compõe o
quadro de maneira exemplar, utilizando também da intensificação causada pela
câmera lenta e construindo um momento derradeiro de relação entre um pequeno
ato a um grande ato, basicamente sintetizando bastante o problema chave do
longa, da situação de Gloria, seus pequenos atos inconsequentes podem causar a
morte de vários em outro país.
A direção de Nacho
Vigalondo soube manter o tom entre uma comédia e uma tragédia, trazendo o
absurdo praticamente como o pressuposto de sua narrativa. Já as atuações,
deve-se salientar como a Anne Hatheway está confortável neste papel, fazendo
surgir diversos trejeitos e manias de fala com extrema naturalidade, seus
trabalhos em filmes independentes realmente são algo a se denotar. Porém, Jason
Sudeikis, talvez por um personagem que é mal elaborado e vai se tornando cada
vez mais um vilão caricato de um mangá. Em primeiro momento ele está bem, muito
por conta de sua facilidade com a comédia, mais em seus momentos finais, sua
atuação para o vilão beirando a loucura é apenas frágil.
Colossal é um filme divertido, até pode se dizer
diferente, uma empreitada interessantíssima com ecos de o Médico e o Monstro.
Por mais que existam alguns problemas narrativos que compliquem demais a
composição geral do filme, tornando até mesmo alguns momentos mais fracos e
diminuindo certos personagens.
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