
O primeiro longa do versátil
Soderbergh é uma impressionante jornada do cinema independente, passeando pelas
temáticas do sexo de maneira muito mais consciente, além de adentrar num
realismo distante às possibilidades técnicas do momento. Com uma simplicidade
imensa, narra a história de Ann, que se aproxima do amigo de seu marido, após a
ausência do mesmo.
Antes que se pense que é uma simples história de traição,
a história de Ann é muito mais sobre libertação sexual do que qualquer outra
coisa. Seu marido, interpretado por Peter Gallagher, é um advogado que a trai
sempre quando pode. Justificando-se que ela não o satisfaz na cama, além de ser
quase sempre avessa ao sexo. A irmã da protagonista, Cynthia, interpretada por
Laura San Giacomo, exalando sexo a todo momento, rapidamente se interessa por
seu marido. A chegada de Graham, interpretado de maneira singela por James
Spader, altera a dinâmica da casa, já que Ann não passa mais a ficar sozinha, se
divertindo e se descobrindo interessante com os diálogos, sobre os pequenos
momentos que vivência com este o convidado. Existe também uma comparação muito
bem realizada entre as imagens de casa dos personagens, de um lado o
bem-sucedido casal, vivendo em uma grande casa, num bairro de elite, enquanto
os forasteiros, Graham, que é desempregado, vive com um carro alugado, meio
perdido e Cynthia, que mora sozinha, sem a mesma realização profissional que
sua irmã, já que trabalha num bar. Enquanto, o casal de classe alta não
consegue dialogar, os outros dois personagens são taxados de faladores e até
mesmo excêntricos, como se fossem sujeitos fora da curva.
A grande elaboração do diretor se encontra em com toda a
imagem contar a história desses personagens. Os ambientes expressam o cotidiano
de cada personagem, além das roupas dos personagens que se modificam exatamente
para contar um pouco de cada um deles. Ann, por exemplo, ao começar a se abrir
sobre o sexo, passa da pureza do branco para o preto, compartilhando daquele,
na qual, consegue se comunicar, de fato, sobre o assunto. O próprio filme traz
um aspecto de vídeo, além usar do conceito para comunicar confissões, Graham,
sente prazer ao assistir outros falarem de suas experiências sexuais.
Percebe-se como o seu filme também como uma das fitas cassetes do personagem,
serve como uma confissão de diferentes formas de se relacionar com o sexo, tudo
isso ainda se torna ainda mais potente quando o filme passa ao fim dos anos 80,
uma geração que popularizou o VHS. Soderbergh ainda conseguiu dar bastante
mobilidade ao longa, nunca se tornando cansativo, os longos diálogos de seus
personagens, os seus cochichos, suas confissões ou traições. Dessa forma, o
longa é simples, mas ao mesmo tempo com um teor conceitual e técnico muito
diferenciado, pois os mínimos detalhes foram ajustados para atingir tal ponto.
O vencedor da Palma de Ouro em 1989, hoje, numa sociedade
que mistura de forma tão intensa o sexo e o vídeo, parece algo pequeno, seu
poder no momento de sua realização provavelmente tenha sido mais catártico. De
qualquer forma, isto não diminui o filme, que é um singelo retrato de personagens
que não sabem se comunicar, não sabem se expressar. Por fim, devo dizer ainda
que Soderbergh continua sendo este diretor de trincheira, passeando por
assuntos incômodos com filmes pequenos, baratos e extremamente independentes.
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