quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

1989 – Sexo, Mentiras e Videotape (Steven Soderbergh, EUA) **** (4.0)

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O primeiro longa do versátil Soderbergh é uma impressionante jornada do cinema independente, passeando pelas temáticas do sexo de maneira muito mais consciente, além de adentrar num realismo distante às possibilidades técnicas do momento. Com uma simplicidade imensa, narra a história de Ann, que se aproxima do amigo de seu marido, após a ausência do mesmo.
            
Antes que se pense que é uma simples história de traição, a história de Ann é muito mais sobre libertação sexual do que qualquer outra coisa. Seu marido, interpretado por Peter Gallagher, é um advogado que a trai sempre quando pode. Justificando-se que ela não o satisfaz na cama, além de ser quase sempre avessa ao sexo. A irmã da protagonista, Cynthia, interpretada por Laura San Giacomo, exalando sexo a todo momento, rapidamente se interessa por seu marido. A chegada de Graham, interpretado de maneira singela por James Spader, altera a dinâmica da casa, já que Ann não passa mais a ficar sozinha, se divertindo e se descobrindo interessante com os diálogos, sobre os pequenos momentos que vivência com este o convidado. Existe também uma comparação muito bem realizada entre as imagens de casa dos personagens, de um lado o bem-sucedido casal, vivendo em uma grande casa, num bairro de elite, enquanto os forasteiros, Graham, que é desempregado, vive com um carro alugado, meio perdido e Cynthia, que mora sozinha, sem a mesma realização profissional que sua irmã, já que trabalha num bar. Enquanto, o casal de classe alta não consegue dialogar, os outros dois personagens são taxados de faladores e até mesmo excêntricos, como se fossem sujeitos fora da curva.
            
A grande elaboração do diretor se encontra em com toda a imagem contar a história desses personagens. Os ambientes expressam o cotidiano de cada personagem, além das roupas dos personagens que se modificam exatamente para contar um pouco de cada um deles. Ann, por exemplo, ao começar a se abrir sobre o sexo, passa da pureza do branco para o preto, compartilhando daquele, na qual, consegue se comunicar, de fato, sobre o assunto. O próprio filme traz um aspecto de vídeo, além usar do conceito para comunicar confissões, Graham, sente prazer ao assistir outros falarem de suas experiências sexuais. Percebe-se como o seu filme também como uma das fitas cassetes do personagem, serve como uma confissão de diferentes formas de se relacionar com o sexo, tudo isso ainda se torna ainda mais potente quando o filme passa ao fim dos anos 80, uma geração que popularizou o VHS. Soderbergh ainda conseguiu dar bastante mobilidade ao longa, nunca se tornando cansativo, os longos diálogos de seus personagens, os seus cochichos, suas confissões ou traições. Dessa forma, o longa é simples, mas ao mesmo tempo com um teor conceitual e técnico muito diferenciado, pois os mínimos detalhes foram ajustados para atingir tal ponto.
            
O vencedor da Palma de Ouro em 1989, hoje, numa sociedade que mistura de forma tão intensa o sexo e o vídeo, parece algo pequeno, seu poder no momento de sua realização provavelmente tenha sido mais catártico. De qualquer forma, isto não diminui o filme, que é um singelo retrato de personagens que não sabem se comunicar, não sabem se expressar. Por fim, devo dizer ainda que Soderbergh continua sendo este diretor de trincheira, passeando por assuntos incômodos com filmes pequenos, baratos e extremamente independentes.

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