quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

1945 – Amor à Terra (Jean Renoir, EUA & França) **** (4.0)

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Mais uma vez se introduzindo nas regiões do interior do Estados Unidos, Renoir realiza um belo longa, sobre um homem que luta por sua terra. Encontrando certa beleza entre a relação que um fazendeiro pode desenvolver pela natureza. Usando de um realismo poderoso, usando de toda força de seu ambiente para construir um retrato de um trabalho interminável. Narrando a história de Sam Tucker, que em busca de condições melhores compra um terreno para sua família e a partir daí passa a desenvolver sua própria plantação.
            
Sim, é um enredo bem simples, mas pode ser um fiapo de história e o diretor consegue extrair o máximo de movimento natural. Inicia-se como um melodrama americano, seguindo aos moldes de John Ford, talvez uma das grandes influências de todo o cinema do diretor francês. Até que este modelo lhe serviu, por mais que a liberdade sem moldes, na qual trabalhava anteriormente sempre se mostrou mais poderosa. A relação familiar serve em muitos momentos como produtora de comicidade, como a mãe de Tucker, que passa grande parte do longa reclamando de tudo que se está acontecendo, como se não houvesse outra coisa a fazer naquele lugar a não ser reclamar. Entretanto, para Sam e sua mulher, existe bastante coisa a se fazer. Até mesmo conseguir a aliança dos problemáticos fazendeiros vizinhos é um trabalho complexo.

Além disso, existe algo de poderoso na noção de propriedade privada neste longa, ultrapassando muito do que se lembra sobre o patriotismo americano, ou do próprio liberalismo, ela faz surgir em subtexto o amor que essa família tem para com o pedaço de terra que adquiriram, por mais que eles estejam usando da natureza, é como se estivessem total comunhão com ela, assim, como aos poucos vão entrando em comunhão com os outros sujeitos nas proximidades. Não à toa que a sua leveza na movimentação de câmera e de como demonstra esta relação lembra A Terra de Djovhenko, um dos mais belos filmes da história do cinema, que apresenta a convulsiva, mas conectiva relação do homem com a natureza.
            
Em termos técnicos este filme é muito superior aos outros produzidos nos EUA por Renoir, com uma fotografia belíssima que sabe usar de seu ambiente para narrar a história. Quando seu filho está doente, Nona, mulher de Sam, se joga na terra, a segura com força, como se apenas este contato natural pudesse aguentar a dor que estivera sentindo. Como de costume, o diretor sabe posicionar seus personagens em cena, usando muito bem do fundo do quadro, criado uma espécie de profundidade de campo, muitas vezes, que nos leva ao horizonte. Quando a família Tucker está em paz é possível ver o mesmo idílio encontrado em Um Dia no Campo, em que passeia pelo cotidiano dos rostos, dos mínimos movimentos e sorrisos de seus personagens. Porém, este filme não é apenas sobre como ascender em contato com a natureza e sim, exatamente, sobre as adversidades de qualquer relação. Por isso, seguindo com sua fixação estética por rios e pelo movimento natural da água, quando todos pensam que está tudo bem, uma grande chuva inunda o rio. 

Este momento é forte. Com a montagem, Renoir constrói pouco a pouco o movimento da água, a maneira como conduz os metais, as madeiras, as árvores, tudo, quando é possível ver a plantação inundada, de certa forma, fica-se maravilhado, pois é exatamente assim que a vida acaba por ser. Por vezes leva tudo e nos faz ter que começar do zero. O rio em Renoir traz o movimento inexorável da vida, nada pode pará-lo, é um movimento que carrega consigo o que tiver pela frente.
            
Estes personagens singelos colocam em sua frente o amor, é por isso que no meio das diversas destruições e perdas que passam durante o filme conseguem perseverar no mundo. O Amor à Terra pode não ser eloquente como outros longas do diretor, existe algo no melodrama clássico americano que lhe escapa, mas com certeza é o seu melhor trabalho nos Estados Unidos.

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