
Mais uma vez se introduzindo
nas regiões do interior do Estados Unidos, Renoir realiza um belo longa, sobre
um homem que luta por sua terra. Encontrando certa beleza entre a relação que
um fazendeiro pode desenvolver pela natureza. Usando de um realismo poderoso,
usando de toda força de seu ambiente para construir um retrato de um trabalho
interminável. Narrando a história de Sam Tucker, que em busca de condições
melhores compra um terreno para sua família e a partir daí passa a desenvolver
sua própria plantação.
Sim, é um enredo bem simples, mas pode ser um fiapo de
história e o diretor consegue extrair o máximo de movimento natural. Inicia-se
como um melodrama americano, seguindo aos moldes de John Ford, talvez uma das
grandes influências de todo o cinema do diretor francês. Até que este modelo
lhe serviu, por mais que a liberdade sem moldes, na qual trabalhava
anteriormente sempre se mostrou mais poderosa. A relação familiar serve em
muitos momentos como produtora de comicidade, como a mãe de Tucker, que passa
grande parte do longa reclamando de tudo que se está acontecendo, como se não
houvesse outra coisa a fazer naquele lugar a não ser reclamar. Entretanto, para
Sam e sua mulher, existe bastante coisa a se fazer. Até mesmo conseguir a
aliança dos problemáticos fazendeiros vizinhos é um trabalho complexo.
Além
disso, existe algo de poderoso na noção de propriedade privada neste longa, ultrapassando
muito do que se lembra sobre o patriotismo americano, ou do próprio
liberalismo, ela faz surgir em subtexto o amor que essa família tem para com o
pedaço de terra que adquiriram, por mais que eles estejam usando da natureza, é
como se estivessem total comunhão com ela, assim, como aos poucos vão entrando
em comunhão com os outros sujeitos nas proximidades. Não à toa que a sua leveza
na movimentação de câmera e de como demonstra esta relação lembra A Terra de
Djovhenko, um dos mais belos filmes da história do cinema, que apresenta a
convulsiva, mas conectiva relação do homem com a natureza.
Em termos técnicos este filme é muito superior aos outros
produzidos nos EUA por Renoir, com uma fotografia belíssima que sabe usar de
seu ambiente para narrar a história. Quando seu filho está doente, Nona, mulher
de Sam, se joga na terra, a segura com força, como se apenas este contato
natural pudesse aguentar a dor que estivera sentindo. Como de costume, o
diretor sabe posicionar seus personagens em cena, usando muito bem do fundo do
quadro, criado uma espécie de profundidade de campo, muitas vezes, que nos leva
ao horizonte. Quando a família Tucker está em paz é possível ver o mesmo idílio
encontrado em Um Dia no Campo, em que passeia pelo cotidiano dos rostos, dos
mínimos movimentos e sorrisos de seus personagens. Porém, este filme não é
apenas sobre como ascender em contato com a natureza e sim, exatamente, sobre
as adversidades de qualquer relação. Por isso, seguindo com sua fixação estética
por rios e pelo movimento natural da água, quando todos pensam que está tudo
bem, uma grande chuva inunda o rio.
Este
momento é forte. Com a montagem, Renoir constrói pouco a pouco o movimento da
água, a maneira como conduz os metais, as madeiras, as árvores, tudo, quando é
possível ver a plantação inundada, de certa forma, fica-se maravilhado, pois é
exatamente assim que a vida acaba por ser. Por vezes leva tudo e nos faz ter
que começar do zero. O rio em Renoir traz o movimento inexorável da vida, nada
pode pará-lo, é um movimento que carrega consigo o que tiver pela frente.
Estes personagens singelos colocam em sua frente o amor,
é por isso que no meio das diversas destruições e perdas que passam durante o
filme conseguem perseverar no mundo. O Amor à Terra pode não ser eloquente como
outros longas do diretor, existe algo no melodrama clássico americano que lhe
escapa, mas com certeza é o seu melhor trabalho nos Estados Unidos.
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