quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

2016 – Personal Shopper (Olivier Assayas, França) **** (4.0)

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A meu ver, o público do cinema deveria condenar menos os atores por certos papéis enfadonhos. Kristen Stewart é um grande exemplo. Após sua incursão na péssima saga cinematográfica Crepúsculo, além, é claro, de alguns outros péssimos papéis, a atriz começou a se encontrar. Nesta segunda parceria com o ex-crítico do Cahiers du Cinema, Olivier Assayas, adentra numa jornada solitária por respostas, interpretando Maureen, uma jovem americana, que reside em Paris, com o seu inusitado trabalho de fazer compras para uma socialite que infelizmente não tem tempo para isso. Porém, ela tem uma conexão grande com uma questão espiritual e acaba por se envolver em um mistério por acreditar estar sendo perseguida por um espírito.
            
É interessante como o diretor constrói um retrato da solidão contemporânea por meio de sua personagem. Quando acredita estar sendo perseguida por um fantasma, recebe diversas mensagens no celular, na qual passa grande parte do longa as respondendo, dando adeus ao seu mundo comum, para partir à metafísica do mundo virtual. Se não houvesse todo uma conotação de terror envolvida no tom do longa, grande parte de seus momentos em celular, vagando pela cidade, em trens, metrôs, ônibus e motos seriam apenas o retrato comum de uma jovem contemporânea que não consegue largar o seu celular. Ao mesmo tempo que, talvez, seja a sua solidão que busque incessantemente por respostas do outro lado da experiência humana. Seu irmão morreu recentemente, seu namorado vive em outro país, quem sãos seus amigos? Quem a acompanha? Nem mesmo a pessoa com quem trabalha aparece, vive em viagem, quase sempre adentra em seu apartamento, sem nem mesmo haver alguém no local. Ela está basicamente sozinha, muitos de seus diálogos ocorrem pelos aparelhos eletrônicos. Portanto, existe um tom de suspense, magistralmente elaborado pelo diretor francês, mas que parece ambíguo, entre a concretude da solidão da mesma e a própria noção de espíritos que parecem mais dizer de afetos que permanecem que qualquer outra coisa.
            
A montagem ainda utiliza de fades para alongar o processo temporal da personagem em seus ambientes, além de tornar ainda mais angustiante e misterioso todos acontecimentos, pois cria uma sensação de elipse, ou seja, de que algo está faltando, algo muito maior. No momento, por exemplo, que Maureen veste uma das roupas de sua chefe, guiada pelo suposto espírito, toda a sequência na casa é elabora com uma montagem que faz o tempo passar por fades, tornando-a imensa, intensificando a sua tensão e até mesmo fazendo surgir uma sensualidade. A maneira com que enquadra a personagem também é muito forte, pois sempre a captura com extremo foco, tornando-a isolada de muitos dos ambientes. Kristen Stewart realiza de forma completamente poderosa seu papel, é uma personagem contida, que é extremamente sensual com muito pouco, mas que, ao mesmo tempo, carrega uma demanda de solidão em seus olhos.
            
Existem pontos narrativos no longa que são enigmáticos, um acontecimento impactante em um hotel que se encerra com uma sequência que acompanha espaços vazios, até que se chegue à porta do hotel, onde a mesma abre e fecha sozinha, como se alguém tivesse passado, de fato, por ali. Ou ainda, o copo que se quebra na casa de sua cunhada, nesse momento, na profundidade do campo é possível vê-lo flutuar até cair no chão. Além disso, a própria maneira com que o filme se encerra, deixa em completamente aberto qual a resposta. Um fim angustiante, pois Maureen olha para o público faz a pergunta chave com que todo o espectador se contorce para entender. Um plano que por conta de sua aproximação do rosto da personagem se torna ainda mais potente e significativo.
            
O filme foi vencedor do prêmio de direção no Festival de Cannes, não sei dizer se ele foi o melhor entre os outros longas que se encontravam na mostra competitiva, porém sua direção é precisa e misteriosa. Explorando a partir de uma história de fantasmas a solidão do mundo contemporâneo, ou no fundo, não seja um através do outro, seja, de fato, os dois. 

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