quinta-feira, 13 de julho de 2017

2011 – Kill List (Ben Wheatley, Inglaterra) **** (4)

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Ben Wheatley consegue misturar o humor negro britânico e o horror com muita facilidade, tornando os gêneros orgânicos. Kill List é um filme intenso, violento, estranhamente cômico, como uma verdadeira realização de um ritual. Contando a história de Jay, um ex-soldado que trabalha como assassino profissional ao lado de seu grande amigo Gal. Enquanto tenta fugir dessa vida pelo seu descontrole, sua mulher exige que volte a trabalhar para que ponha dinheiro em casa. Sendo, de fato, um sombrio estudo de personagem.
            
O início do filme é uma ótima introdução para que o espectador entenda quem é Jay e sua relação com Gal e já introduz a conspiração que ronda a empresa para qual os dois amigos trabalham. Assim como sua reação violenta com a própria vida, seja por se alimentar com o coelho morto por seu gato, ou a maneira com qual briga com sua mulher, ao mesmo tempo, quando calmo, tem uma bela relação com o filho, com a mulher e principalmente com seu amigo. A escolha do diretor por diversos falsos raccords e cortes abruptos impõem uma relação com o cansaço do personagem, assim como parece criar uma relação alucinógena com os acontecimentos. Quando os dois amigos voltam ao trabalho recebem três nomes para serem abatidos. O diretor usa disso para separar a narrativa em capítulos, criando um arco para cada pessoa que precisa ser morta. Wheatley ainda faz um belo uso da câmera de mão e subjetiva em diversos momentos, principalmente no fim, em que o desespero é intenso. O diretor mostra-se mais uma vez como é bom em produzir efeitos sensórias com o movimento de câmera e efeitos visuais, como correção de cor, câmera lenta, etc.
            
Aos poucos o filme se torna ainda mais violento, pois aparentemente Jay não consegue parar quando começa, ele é muito sentimental, alguém que se afeta de maneira descontrolada por situações de podridão humana. Os três nomes são sugestivos, um padre, que pouco sabe-se o motivo por qual foi escolhido, representando a Igreja, um bibliotecário, escolhido pelas suas íntimas relações com a pornografia infantil, representando o conhecimento, tal descoberta intensa faz com que Jay saia em busca de mais e mais, procurando eliminar todos os envolvidos, enquanto Gal está no negócio apenas pelo dinheiro, o protagonista parece de fato envolvido afetivamente com as situações. O último nome é de um senador, possivelmente corrupto, em sua mansão nas florestas inglesas, que representa o estado. Os capítulos servem para desenvolver a relação que Jay tem com o matar pessoas, “ não tem problema, pois eles fizeram coisas ruins”, a todo momento ele procura desculpas para suas matanças, ao mesmo tempo que se deixa levar por completo por elas. O último capítulo consegue construir uma conclusão mais que perturbadora para a história, assim como conecta todos os signos apresentados, se existe um momento perturbador no filme é aquele no qual Jay e Gal se encontram na floresta à noite e observam as bizarras realizações do senador. As duas últimas sequências do filme são como verdadeiros pesadelos, montados meticulosamente por Wheatley para causar um desespero no espectador, assim como para trazer uma conclusão ao personagem de Jay de forma arrebatadora, podendo até ser decifrável pelo decorrer do filme, mas ainda assim poderosa e assustadora.
            
Portanto, Kill List é um bom filme, extremamente direto ao ponto, por mais que esteja aberto a interpretações, tem um objetivo muito bem definido e bem explorado. Prezando em seu objetivo muito mais a sensação que o conteúdo, tornando o filme uma bela experiência, ou melhor, uma experiência assustadora, aprofundando o espectador na mente do personagem, em sua vivência perturbadora. 

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