sábado, 8 de julho de 2017

2014 – O Que Fazemos Nas Sombras (Taika Waititi e Jemaine Clement, Nova Zelândia) **** (4)

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Taika Waititi já está se tornando um grande nome da comédia contemporânea, brincando com aspectos da comédia nonsense e da sátira, fazendo as piadas de diálogo tão bem quanto as comédias visuais. Podendo fazer uma comparação com Edgar Wright, um britânico, porém Waititi tem algo de novo, um toque neozelandês pouco usual. Trabalhar em dupla com Jemaine Clement permitiu que os dois atuassem enquanto conduzissem o filme. Narrado como um mockumentary, ou seja, um documentário falso, conta a história de três vampiros (quatro, quando Petyr está acordado) que vivem no interior da Nova Zelândia.
            
A introdução dos personagens é geniosa, primeiro Viago, um dândi, protagonizado por Waititi cheio de trejeitos flamboyant e expressões cômicas, sempre sorrindo quando não deveria, Vlad, um nobre que empalava pessoas por diversão, interpretado por Clement, agindo como um viciado em sexo diversas vezes, assim como é perturbado por seu passado e o terceiro sendo Deacon, o mais novo entre eles, algo como um bad boy do passado, sem contar o Petyr, algo como o Nosferatu que vive no porão e praticamente não sai do caixão. Viago sendo o mais organizado, sempre reclamando da sujeira dos outros, dos pratos mal lavados e do sangue no chão, pedindo para que eles coloquem jornais no chão e sofá antes de matarem suas vítimas, o que se sucede numa cena hilária. Existem pequenas entrevistas individuais que dão mais relevo aos personagens, aprofundando cada um deles ao mesmo tempo que construindo mais momentos cômicos com a história e estilo individual deles. Outra questão narrativa bem utilizada é a de ser um falso documentário e diversos personagens estranharem o uso das câmeras, ocorrendo interrupções de algumas cenas, como se a piada, apesar de usual, chegasse de surpresa. A repetição também é crucial, puxando algo em comum nas séries de comédia americana, em que algumas imagens se repetem ou situações para intensificar o efeito cômico, algo comum em sitcoms.  
            
O principal motor do filme se encontra nas suas relações com a modernidade e principalmente com os humanos, quando são obrigados a aceitar um novo morador em sua casa, que acaba por trazer um amigo humano, faz com que os vampiros criem uma relação de muita amizade, pois este os insere num mundo tecnológico no qual eles nunca tiveram acesso. Assistir ao pôr do sol pelo Youtube é algo que só vampiros ficariam surpreendidos. É interessante notar, também, que quando saem de sua mansão perturbadora sempre algo dá errado, errado demais, sejam encontros com lobisomens, ou caçadores de vampiros, sempre construindo uma expectativa e a satirizando, não há nada a ser levado a sério no filme, tudo é baseado no humor e pela espontaneidade dos personagens e acontecimentos, parece que existe muita coisa improvisada no filme. Não é à toa que o nonsense é tão proposital, pois normalmente funciona muito mais visualmente que conceitualmente, os atores/diretores compreendendo o efeito cômico que isso causa, principalmente em um mockumentary, que pretende capturar a espontaneidade, utilizam desse recurso diversas vezes, sem nunca o tornar chato, sempre conseguindo construir alguma situação engraçado. Por toda idiotice que promove de forma desenfreada, porém tão bem organizada consegue se tornar inteligente.
            
Portanto, Waititi e Clement fizeram um bom trabalho em uma comédia despretensiosa, que surpreende e muito visualmente, carregando uma espontaneidade e um senso de humor que estava em falta no cinema. 

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