segunda-feira, 3 de julho de 2017

2016 – Sete Minutos Depois da Meia-Noite (J. A. Bayona, Inglaterra e Espanha) **** (4)

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Voltando-se para suas origens na fantasia com toques de horror, mas não pelo aterrorizante e sim pelo desconhecido, Bayona conta a história de Conor, uma criança de trezes anos, com um pai ausente e a mãe com câncer. Ele passa a ter sonhos, ou pesadelos, com uma árvore gigante que adquire uma fisionomia humana. Apesar de se repetir um pouco no que pretende passar, consegue, por meio de uma direção intensa, boas atuações e efeitos visuais incríveis, construir uma bonita história sobre o poder das narrativas ficcionais na vida de todos.

Deve se atentar às atuações do filme, se a pequena participação de Felicity Jones constrói uma personagem sem muita presença, como a mãe de Conor, o próprio garoto, interpretado magistralmente por Lewis MacDougall que consegue expressar todos os sentimentos complexos que a criança está sentindo na situação, constrói um personagem que o espectador consegue facilmente se afeiçoar. Seu personagem se sente sozinho, na escola sofre bullying, sua mãe quase sempre está impossibilitada, seu pai aparece de vez em quando, sua avó, interpretada por Sigourney Weaver, aparece como uma figura rígida que se impõe sobre o garoto, dessa forma, ele tenta esconder, reprimir ao máximo, tudo o que sente. Parece até mesmo que leva toda essa situação como natural, não a questiona, não tenta melhora-la, não elabora o que sente de fato. Esse sentimento é expresso pela Monstro Árvore, no qual Liam Neeson faz a voz, o monstro que se relaciona com o King Kong, filme que garoto assiste e pergunta a sua mãe “por que querem matar o King Kong”, e a resposta é bastante clara “porque as pessoas têm medo do desconhecido”. Existia um sentimento no garoto que ele não conseguia entender, algo que era inconcebível para seu corpo. Como numa narrativa fantasiosa, o Monstro Árvore decide contar três histórias para o garoto e por fim, ele deveria contar o sonho que ele sempre tem, o sonho em que sua mãe morre.
            
As três narrativas são narradas de maneiras distintas, a primeira se expressa numa animação 2D bem simples, a segunda já se expressa com uma animação 3D, a terceira simplesmente é narrada simultaneamente com a vida de Conor, ou seja, em um fluxo progressivo, foi se percebendo o poder da narrativa no garoto. A maneira que ela foi evoluindo, ganhando relevo, fazendo-o conhecer aquilo que nunca concebeu, ou que já está em sua memória, mas escondido, reprimido. Nessa pequena escolha, de como inserir as narrativas dentro da grande narrativa, Bayona constrói um efeito de ressonância. A ficção agindo como onda, reverberando na vida do garoto, fazendo finalmente compreender sua própria vida. O que remete a uma ideia completamente contrária ao da ficção como maneira de escapar da realidade e sim como fazendo parte dela, agindo sobre ela. Dito isso, Conor tem medo do que sente, pois não compreende esse sentimento, por isso, odeia o Monstro Árvore, para aos poucos agir em conjunção com ele. Se acoplando ao monstro, ao que desconhece, para finalmente entender-se.
            
Portanto, Bayona produziu um belo filme, que potencializa a ficção como forma de devir, ou seja, uma maneira de se entender e entender o outro. O conteúdo dessas narrativas pode ter sido relevante, ou não, mas o relevo que elas produziram, atingem o espectador e o pequeno Conor de uma maneira ascendente. 

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